O Dr. Almeida Santos foi personagem central na vida política moçambicana no período que antecedeu o fim do regime salazarista e, depois, nos acontecimentos que se lhe seguiram.
A mais do que um título pode considerar-se que foi, também, actor e espectador privilegiado dos dramas "do colonialismo e da descolonização", como subtitulou o primeiro volume das suas "Quase Memórias".
No Moçambique colonial, integrando o grupo dos "Democratas de Moçambique", núcleo da oposição democrática que aparecia, às claras, sempre que se proporcionavam ocasiões, participando em períodos eleitorais, escrevendo ou defendendo presos políticos e nacionalistas moçambicanos; em Portugal, após a Revolução dos Cravos, como dirigente do PS, ministro em vários governos, candidato a PM, Presidente da Assembleia da República e, sobretudo, para aquilo que aqui nos interessa, figura chave no processo de descolonização enquanto Ministro da Coordenação Interterritorial dos primeiros governos provisórios, e negociador e signatário dos tratados de Independência.
O autor descreve o livro como sendo uma "digressão pelo estertor do colonialismo e pelo dossier da descolonização" e divide a sua narrativa por dois volumes com o título geral de Quase Memórias": o primeiro volume chama-se, como acima se disse, "Do Colo,nialismo e da Descolonização"; o segundo, "Da descolonização de cada Território em Particular".
Almeida Santos já tinha, em 1975, comparado a descolonização a um iceberg de que "a parte mais determinante (...) não sobrenadou a linha de água da opinião pública".
Este livro vem, segundo ele, tentar obviar a esse desconhecimento.
Claro que Almeida Santos "escreve para a História" que considera "muitas vezes deturpada, e em consequência mal julgada". Também não assume uma objectividade absoluta, que reputa (e bem) impossível de atingir, salientando várias vezes que fala da sua verdade.
É seguro, também, que o livro desagradará a gregos e troianos; a uns porque o autor personifica, juntamente com Mário Soares e os "Militares de Abril" a figura sinistra do "traidor e vende pátrias", responsável pelo drama cósmico dos retornados e pelo seu cortejo de lágrimas, rancores e revanchismo; a outros porque o autor não deixou de ser sensível, talvez por razões geracionais, à retórica absolutória que, ainda hoje, impregna largas camadas do Povo português e que debita uma suposta "diferença" do colonialismo português, que seria menos bárbaro, mais humano e "lusotropical".
Ainda assim, o livro é interessante e, mesmo, muito importante para quem queira conhecer ao pormenor uma das fases mais complexas da História recente de Portugal.
QUASE MEMÓRIAS (2 vol.)
António de Almeida Santos
Ed. Casa das Letras/Editorial Notícias
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