A fotografia mostra meu Pai e o meu primo Joca, em frente à casa de Montepuez, com a Laika, julgo eu. Não pode ser o Vostok porque há vários cachorros a mamar...
Desde muito pequeno, fui um devorador entusiástico de ficção científica.
Comecei, claro está, com as aventuras de Flash Gordon, passei rapidamente para Jules Verne, que devorei em doses consideráveis e, rapidamente, cheguei à Colecção Argonauta, da Livros do Brasil, a pioneira absoluta do género em Portugal.
A Argonauta, e que cheguei a ter um número apreciável de volumes, tinha uma qualidade editorial notável, com estupendos tradutores como Mário Henrique Leiria e Fernanda de Castro e capas de alta qualidade artística, com um toque surrealista que partilhavam com as capas da colecção irmã, a Vampiro, de Cândido Costa Pinto.
Lembro-me ainda dos dois primeiros números da Argonauta: "Perdidos na Estratosfera", uma space opera cheia de cor e emoção e o número 2, o inesquecível "O Estranho Mundo de Kilsona", que explorava a hipótese de o atómo, com as suas partículas subatómicas a girarem à volta do núcleo, reproduzir um sistema solar que, por sua vez, estaria integrado em vastos universos microcósmicos. E era nesses "planetas" subatómicos que se desenrolavam fantásticas aventuras que me prendiam ao livro, um dos que mais me fascinou durante a infância.
Vem isto a propósito da Laika e do Vostok.
Em 1957, teve início a Era Espacial, com o lançamento do primeiro Sputnik por um foguetão soviético Vostok. No mesmo ano, a cadela Laika (palavra que significa qualquer coisa como "Ladradora") tornou-se o primeiro ser vivo a completar uma órbita à volta da Terra.
É difícil imaginar o que estes acontecimentos significaram para todo o Mundo e, nele, para a minha imaginação de infantil leitor de ficção científica.
Ainda hoje penso que a indiferença com que se encara a grande aventura espacial é uma estranha reacção. Talvez se tivesse passado o mesmo com as primeiras navegações marítimas; talvez os contemporâneos dos pioneiras das descobertas tenham considerado os seus feitos com alguma admiração pela sua coragem mas, certamente, impedidos pela árvore de abarcar toda a floresta, se tenham pura e simplesmente habituado a cada um dos pequenos avanços, sem consciência de que o Mundo, a Vida e a Humanidade estavam a mudar sob os seus olhos.
Mas o meu entusiasmo era enorme e a primeira cadela que tivemos após o Sputnik passou a ser uma dos milhões e milhões de Laikas que, nesse ano e nos seguintes, apareceram em todo o Mundo, cada uma delas homenagem à pequena cadelinha que ladrava, sozinha e assustado, no vazio do espaço e que foi, também, a primeira "mártir" da aventura espacial.
O primeiro macho a aparecer depois disso, chamou-se, claro, Vostok.
2 comentários:
Caro A. a que traduções de Fernanda de Castro se refere? Recorda-se de algum título em particular?
A minha colecção da Argonauta há muito que se dispersou. Restam-me alguns volumes, menos de 20, certamente.
Não me recordo, de facto, de nenhuma obra da colecção que tenha sido traduzida por Fernanda de Castro; lembro-me, contudo, que os dois nomes que cito no post e alguns outros que de momento também me fogem, eram "garantias" de qualidade que eu atirava à cara de amigos e colegas que achavam a FC um género menor, indigno de figurar nas prateleiras de um intelectual que se preze.
Pedantismos...
Vou tentar uma pequena pesquisa entre os livros que ainda tenho e junto de alguns "especialstas".
Se tiver resultados, divulgo-os.
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