29.2.12

Fé (da Lena)

 (Clicar para aumentar)
Fé por Fé, a atitude da minha mana Marilena parece-me mais fervorosa do que a que eu demonstro no post anterior.
Acho que as circunstâncias também são diferentes, a Lena parece-me mais crescida aqui do que eu era acolá.
Deduzo, por isso, que não se tratava da Primeira Comunhão mas sim aquilo que, na prática católica, se chama o Crisma ou Confirmação.
Seja como for, lá estamos, de novo, na encantadora Capela de Montepuez e a Lena, benza-a Deus, parece um anjinho (ou uma bonita freirinha)...

28.2.12

Contei aqui como uma crise religiosa, ajudada por alguma preguiça matinal, me armou de coragem para informar o Poder Paternal (e Maternal) de que tinha "perdido a Fé".
Para esse gigantesco salto epistemológico muito tinham contribuído os colégios religiosos em que estive interno, sobretudo a pedagogia jesuítica praticada no Colégio das Caldinhas, o vetusto Instituto Nun'Alvres (sic).
Mas o agnosticismo só me atacou bastantes anos depois desta fotografia, que imortalizou a data da minha Primeira Comunhão, dia entre todos glorioso, como se pode constatar pela pose extática de catecúmeno.
O acontecimento deve ter tido lugar por volta dos meus 8 anos (1951).

27.2.12

O escritório

No edifício mais pequeno funcionava o escritório de "A. Augusto Dias & Cia. Lda.".
No maior, havia um armazém, uma oficinazinha e uma loja de "comércio geral", como se dizia, cuja entrada se vê.
Estacionado junto ao escritório está o Chevrolet mostrado aqui, repintado.
Em 1962,  acreditando que a greve e o "Luto Académico" decretados pelas Associações de Estudantes em resultado da proibição das comemorações do Dia do Estudante, de que se comemoram os 50 anos nos próximo dia 24 de Março, eram para "ir até ao fim", anunciei orgulhosamente aos meus Pais, cheio de veleidades revolucionárias (tinha sido recrutado para o PCP clandestino uns meses antes) que me recusava a fazer exames. 
Corria o mês de Maio. 
Em fins de Abril, juntamente com o Fernando Vilhena e o Arsénio, tinha ido, cerca da meia-noite, reconfortar o estomago com um bacalhau assado no Bolero, um bar na Mouraria, como preparação para uma madrugada de pichagens de paredes apelando à manifestação (obviamente proibida) do 1º de Maio. 
À saída do estabelecimento, fomos abordados por alguns indivíduos de péssimo aspecto que nos conduziram à Rua António Maria Cardoso, onde se situava a sinistra sede da PIDE.
Hei-de contar com mais vagar esta história.
Perante o meu combativo anúncio sobre a recusa dos exames, recebi ordens para regressar imediatamente a Montepuez e fui intimado a trabalhar, durante todo o período de longas "férias"que se seguiu. Passei, então, a ser acordado, todos os dias às 6h30 da manhã, dirigindo-me em seguida ao escritório, onde mergulhava nas delícias da contabilidade comercial.
O pior foi suportar a amarga ironia do meu Pai quando, pouco tempo depois, foi decretado o fim da greve e a Academia aceitou que se fosse aos exames.

26.2.12

Citação XIV



De todos os meios de expressão, a fotografia é o único que fixa para sempre o instante preciso e transitório. Nós, fotógrafos, lidamos com coisas que estão continuamente desaparecendo e, uma vez desaparecidas, não há mecanismo no mundo capaz de fazê-Ias voltar outra vez. Não podemos revelar ou copiar uma memória.

Henri Cartier-Bresson
O Momento Decisivo

25.2.12

Carnaval IX



Da esquerda para a direita, a minha filha Sofia em Pipi das Meias Altas, o meu sobrinho Luís em Palhaço Triste e a minha sobrinha Carla em Chinesa.                                                




 A Carla e o Luís nasceram em Montepuez.
A Sofia nem sequer esteve alguma vez em Moçambique.
É exactamente por isso que, de certa e negativa forma, também está relacionada com Montepuez.
De qualquer maneira, tenho que arranjar pretextos para a 
incluír no blog, como fiz aqui.

24.2.12

Teresa e Augusto Zé

Os meus primos Teresa e Augusto Zé Russo Ferreira, junto à piscina do Natupile.
Os Pais, a Tia Silvina e o Tio Júlio, tinham uma machamba em Namuno mas habitualmente estavam em Montepuez.
O Augusto Zé era um dos melhores "assobiadores" de Montepuez e arredores, título que disputava com o Claudino Bagorro, Depois de vir de Coimbra, aventurava-se por cantorias de mornas e coladeras que colegas caboverdianos o  tinham feito descobrir.
Mas bom, bom mesmo, era nas canções mexicanas, tipo "Cucurrucucu paloma" e similares, cheias de gorgeios e efeitos de voz (a qual estava longe de ser excelente).
Era, também, exímio no poker de dados com que dirimiamos quotidianamente a dúvida de saber quem pagava o whisky pré-almoço, na varanda do Teixeira & Ramalho. 
Mas isso foi uns bons anos mais tarde...

23.2.12

Afirma a Lena


Escreve a Lena, no verso da fotografia:


Esta fotografia é a única em que a nossa Mãe está com todas as Tias. Está o Almeida, a Mãezinha, a Tia Aninhas, a Tia Conceição, a Tia Mariana (de chapéu), a Tia Silvina e a Tia Irene.


E, digo eu, no meio, a Belita, a Fernanda e a Teresa. Acho que, atrás da Belita, a espreitar, é a Lena. À frente, de pé e com um joelho enfaixado, apresenta-se o Beto. Não identifico quem está a seguir mas, depois, estou eu e o Lelo.
Não sei se é a única em que estão todas. 
Julgava que havia, pelo menos, uma outra. Mas, de facto, falta nela a Tia Irene.

É esta.

21.2.12

Safari no Lugenda 2

Outra vez uma fotografia que a Lena assinalou como sendo de um "Safari no Lugenda", tal como a que postei há tempos.
Embora não esteja muito nítida, parece-me reconhecer o meu primo António Junqueiro, tio do João e do José (ver aqui), caçador profissional, aventureiro e outras coisas...
Talvez lhe venha a dedicar um post; ou talvez não.

20.2.12

Carnaval VIII









Porque estamos em quadra de Carnaval (ainda que sem tolerância de ponto) repito esta fotografia.
Provavelmente estava em cima de um banquinho.

Em cima de cadeiras, em cima de mesas








Quando não era em cima de cadeiras, era em cima de mesas.

18.2.12

"O Turita com um cãozinho muito engraçado"

O título deste post é uma frase que está escrita no verso da foto que o ilustra, numa caligrafia muito infantil que pode ter sido a minha.
O Turita teria três ou quatro anos; se assim fosse, eu teria seis ou sete.
O que acho interessante na fotografia é a mania que tinham de nos pôr em pé em cima da cadeiras! Tenho várias fotos em que isso aconteceu e pergunto-me que obscura razão haveria. 
Deve ter a ver com o foco da máquina, talvez com a rigidez de um tripé cuja altura não pudesse ser alterada. 
Seja como for, parece-me estranho...
Outro aspecto interessante - e que é patente neste caso - é o ar solene, quase hierático que nós, os pequenos modelos, adoptavamos.
Aqui, a explicação é, talvez, mais fácil de imaginar; seria o "olh'ó passarinho" ou o "quieto, agora" que tentava garantir êxito logo à primeira tentativa, que os rolos eram caros, a revelação feita longe (não havia profissionais de fotografia em Montepuez e os rolos eram enviados para Nampula ou Lourenço Marques).
Dizem que a fotografia congela no tempo um dado momento.
Quem parecia congelado éramos nós...

17.2.12

Marilena

 Clique sobre a foto para aumentar
Em que meditaria a minha irmã Lena?
Talvez em algo que lera no livro que agarra. Ou na vida, como todos fazemos de quando em quando.
Lembro-me bem do jarro chinês e da mesa de sândalo sobre a qual está a fotografia de meu Pai. O abat-jour do candeeiro era encarnado e o pequeno dente de elefante trabalhado julgo que ainda existe na casa da Marilena.

16.2.12

Daniela

No verso da foto pode ler-se, na a caligrafia infantil da Lena, "Oferecida pela minha querida amiga Maria Daniela".
A Daniela foi o meu primeiro amor, tinha eu sete ou oito anos, e julgo que disputei com o meu primo Beto as suas atenções.
Era muito bonita, a Daniela - e tenho a certeza que continua a ser. Tinha um sinalzinho preto na face e uma pequenina falha triangular dos dois dentes da frente.
 Meu Pai (esq.) com o Pai da Daniela 
Era a filha da Srª. D. Guilhermina e do Sr. Silvestre, Director da SAGAL, e irmã da Carla e do Tozé (?).
A Daniela!
Voltei a vê-la em Lourenço Marques, muitos anos mais tarde, frequentando o Colégio D. António Barroso, onde reencontrou, também, a sua "querida amiga", a minha irmã Lena. 

15.2.12

Safari no Lugenda

É a caligrafia da minha irmã Lena que parece indicar que este é o Rio Lugenda.
Tenho a certeza que não participei neste safari mas tenho outras fotografias que parecem ser da mesma ocasião.
Hoje, uma boa parte do Lugenda está integrado num Parque Nacional.  
Abunda a fauna selvagem, com destaque para os elefantes que estiveram à beira da extinção devido à guerra civil.
Existe um ressort que, segundo parece, tem excelentes condições e dizem-me que tem cada vez mais turistas a procurá-lo.
Não pude constatá-lo pessoalmente mas, a julgar pela qualidade do ressort de Matemo, nas Quirimbas, onde estive e que pertence à mesma empresa hoteleira, não me custa acreditar.

14.2.12

Assim falou o Turita!

A propósito deste post, o Turita disse-me:

" Nunca o ouviste falar na tropa?!!
Eu lembro-me muito bem. Desta fotografia, por acaso, também não me lembro mas lembro-me doutra, de corpo inteiro, fardado, também com capacete colonial e polainas militares...
Até contou várias vezes que, na tropa, como só tinha papeis escolares franceses, era oficialmente analfabeto mas foi o escolhido para dar aulas aos recrutas, no Quartel...
Acho que fez a tropa em Porto Amélia."


Pronto, Turita, já á não está quem falou.
São coisas da memória.

13.2.12

Os "grandes" e eu

 Eu com os "grandes"
Como escrevi no post anterior, os primos "grandes" da tribo, eram o Zé Maria, o Júlio e o Joaquim. 
Eles eram, de algum modo, os nossos (os mais novos) modelos.
O Zé Maria está à esquerda, já com o ar displicentemente "jamesdeaneano" que mais tarde havia de cultivar conscientemente.
À direita, o Júlio, o mais espalha-brasas e irrequieto.
Em pé, compenetrado e compostinho, o Joaquim, que havia de ser the great white hope do futebol, promessa não totalmente cumprida, embora tenha chegado a jogar na Académica de Coimbra.
Sentado, de frente para a câmara, certamente orgulhoso por ser fotografado naquela companhia, "este que se assina"
Ao fundo, a Serra compõe o skyline de Montepuez e leva-me a pensar que a foto é tirada no court de ténis do Clube. 

Zé Maria e Maria Cândida, os "grandes"

O meu primo Zé Maria Teixeira era o mais velho da "segunda geração" da tribo e integrava o grupo dos primos "mais velhos", como Júlio (aqui) e o Joaquim Russo Ferreira.
O Zé Maria, que cultivava uma parecença com James Dean que acentuava com a forma de pentear o cabelo, com a postura melancólica e o uso de jeans e golas da camisa levantadas, era um dos meus heróis infantis, sobretudo depois de voltar de Coimbra, muito "cosmopolita" e "europeu".
À sua direita, está a Maria Cândida, minha prima pelo lado materno que viria a casar com o meu primo (do lado paterno) José Sobral, grande amigo do meu Pai e filho daquele casal de pioneiros que "crismou" Cuamba como "Nova Freixo" e que evoquei aqui.
À direita da Maria Cândida, está a Belita Ramalho, à esquerda do Zé Maria, a sua irmão Fernanda e, confortavelmente instalada no guiador da ginga, esá minha irmã Lena.
Já que falei da "segunda geração" da tribo, falemos da terceira, da prole dos fotografados.
Dois filhos do Zé Maria, o Miguel e o Pedro; três filhas da Maria Cândida e do Zé Sobral, Belinha, Luíza e Sãozinha; da Belita, a Menita (Filomena) e os gémeos Jorge Manuel e Manuel Jorge; da Fernanda, o Joca e o Fernando (ver aqui uma foto); finalmente, da minha irmão Lena, os meus sobrinhos Nuno e Jorge.
Poupo-vos, por enquanto, à "quarta geração"...

11.2.12

Os paquetes da "linha de África"

 O PÁTRIA, o navio referido no post anterior

Nos anos 50, as viagens aéreas entre Portugal e as colónias, sobretudo as mais distantes como Moçambique, eram, ainda, uma novidade dispendiosa.
Os voos só tiveram início depois da Guerra, nos finais dos anos 40, a viagem entre Lourenço Marque e Lisboa demorava vários dias, com mais de dez escalas.
Só no início da década de 60, com a aquisição dos enormes Super Constellation, os voos passaram a ser de 23 horas, com escalas em Luanda ou Leopoldville (a actual Kinshasa) e Kano, na Nigéria.
 O Super Constellation
Grande parte da população branca da colónia adoptara o ritmo dos funcionários públicos que, de quatro em quatro anos, tinha direito a gozar, em Portugal, uma longa “licença graciosa” que podia chegar a ser de seis meses.
Por isso, uma viagem de pouco mais do que 10 dias, entre Porto Amélia e Lisboa, nos confortáveis e luxuosos paquetes que faziam a “linha de África”, com várias piscinas, divertimentos, bailes e festas, com magníficas escalas na Beira, Lourenço Marques, Cape Town,  Luanda,  São Tomé, Sal e Funchal era já (ou ainda, no caso de regresso) férias.
É muito persistente na minha memoria uma festa feérica quando se passava a linha do Equador: a sirene do navio soava e alguns tripulantes mais afoitos tentavam convencer as meninas que se sentia “um saltinho” provocado pelo desnível entre as duas metades do planeta. Com risinhos nervosos, as meninas fingiam ter medo e deixavam-se amparar na expectativa do safanão (isto já sou eu a inventar).
Fiz ainda duas ou três dessas viagens e, afora os primeiros dias de adaptação que eram marcados por fortes enjoos, foram dias de brincadeiras e folguedos de que ainda hoje me lembro.
As duas principais companhias que operavam a “linha de África” eram a Companhia Nacional de Navegação e a Companhia Colonial de Navegação.
Hoje, desmantelada a marinha mercante portuguesa por curteza de vistas e espírito tacanho, é difícil imaginar a pujança e tamanho das frotas destas Companhias, compostas de dezenas de navios que serviam rotas para África, para a América e para a Ásia.
A CNN e a CCN concorriam em grande equilíbrio , mantendo um quase paralelismo nas suas frotas.
Os principais paquetes que faziam a ligação entre Portugal e as colónias africanas eram, na CCN, o Pátria, o Império e o Infante D. Henrique, a que correspondiam, na CNN, o Moçambique, o Angola e o príncipe Perfeito.
Quando chegavam aos portos mais isolados e distantes, eram acolhidos em festas, com algazarra e excitação.
Lembro-me de, em Porto Amélia, serem organizados pelos Comandantes dos navios, rutilantes jantares de gala, seguidos de baile, nas salas e salões sumptuosos, que deixavam frustradas as crianças, relegadas para umas festarolas à tarde à volta da piscina, mesmo assim com um lanche e guloseimas.
Essas viagens foram das mais exaltantes aventuras da minha infância.


10.2.12

Regresso a África

 Minha Mãe, Turita, lelo, Almeida e eu, no "Pátria"
Em 1954, após dois anos de resistência ao Colégio dos Jesuítas das Caldinhas, período dos mais amargurados de toda a minha vida (e ela já vai longa...) e de que falarei mais tarde, meus Pais cederam e fizeram-me regressar.
 Na amurada do "Pátria", Lena, Turita e minha Mãe
Sei bem que eles sofriam tanto como eu a separação e que o meu "depósito" no sinistro casarão de Santo Tirso se devia à convicção de que a reputação pedagógica da instituição me daria uma preparação escolar de excepção.
Seja como for, minha Mãe veio à "Metrópole" com os meus irmãos e, no regresso, acompanhei-os.
A viagem foi no Pátria, um dos emblemáticos paquetes que faziam a "linha de África".

9.2.12

Memória Colonial VIII

Integro este post na série "Memória Colonial" sacrificando o rigor à facilidade.
Na verdade, neste caso não se trata de abordar, especificamente, a época colonial. Segundo o próprio autor, o livro constitui "uma caminhada pela História de Moçambique, da sua gente, da sua economia e da sua cultura", com um "objectivo (...) puramente informativo".
Contudo, a série "Memória Colonial" pretende assinalar - e, por extensão, chamar a atenção dos meus poucos leitores - para trabalhos relacionados com o período colonial, coisa que este livro é, embora só parcialmente.

Por outro lado, cabe sublinhar a forte ligação do autor a Montepuez, onde viveu por muito tempo e a que permanece emocionalmente ligado.

Aurélio Rocha, o meu primo Lelo, cujas fotos de infância já publiquei (por exemplo aqui) e que, muito gentilmente, me autorizou a utilizar textos seus para a série "Apontamentos sobre as origens históricas de Montepuez" - que  pode consultar clicando, na coluna "Marcadores", no lado direito do blog, em "História".
Clicar para aumentar
É, como já tive ocasião de mencionar, um reputado Historiador, docente da Universidade Eduardo Mondlane.
Publico, também, cópia da contracapa do livro, com uma Nota Biográfica.
"Moçambique História e Cultura" é uma leitura altamente interessante, com uma abordagem que permite uma visão muito completamente da História de Moçambique por qualquer leigo.

Aurélio Rocha
Moçambique História e Cultura (2006)
Ed. Texto Editores

8.2.12

Minha Mãe

Minha Mãe.
Um carimbo, no verso, no verso, daCasa Salvador, da R. Sta. Catarina, 289, no Porto, fornece a data: Dezembro de 1953

Natupile

Neste post acerca da casa do Natupile falo de "um largo caminho bordejado por laranjeiras". Ei-lo.








7.2.12

O soldado


Não conhecia esta fotografia.
Ademais, não me lembro de  qualquer referência, na família, ao serviço militar de meu Pai ou de ter ouvido histórias ou recordações  que, mais tarde ou mais cedo, quase sempre surgem na conversa de quem teve esse tipo de experiência e que começam, invariavelmente, pela frase “quando eu estava na tropa”.
Por isso, a foto intriga-me.
 Verso da foto com a assinatura de meu Pai 
Ela esteve, certamente, colada a um documento de que foi, depois, cuidadosamente destacada. Nota-se, na parte superior, a marca de um selo branco e, no verso, sob uma fina camada de papel que deve ter pertencido ao documento em que esteve colada, vê-se a inconfundível (para nós, a família) assinatura de meu Pai. 
Como já disse (Errâncias IV), meu Pai chegou a Moçambique em 1930. Tinha 17 anos.
A fotografia datará, portanto, de 32 ou 33.
A cor sépia, que é, de certo modo, a patine das fotografias, o capacete colonial, o tipo de uniforme e, sobretudo, o ar juvenil, quase adolescente, do soldado retratado e o seu olhar romanticamente perdido no horizonte, tudo isso me remete para uma época muito distante, para o universo aventuroso  das “Minas de Salomão” ou de “O Fantasma, o Duende que Caminha”.
É uma bela fotografia.



6.2.12

Dúvida

Não sou capaz de identificar o bebé que está à direita, na foto. Será a Lena ou o Turita? Um deles, certamente. O rapazinho simpático, à  esquerda, é alguém que, manda a modéstia, não nomearei... 

5.2.12

Júlio



A figura central desta foto, tirada na Missão de S. José (ver aqui) é o meu primo Júlio da Silva Ramalho, empoleirado no capot do Land Rover.
Das restantes pessoas, penso reconhecer o Rosa, rodeado de meninas, tendo à sua direita a irmã do Júlio, a Belita, e a última da fila, a Queta (Henriqueta) Pimenta de Castro. 
Espero que o Júlio, lá de São Paulo, me ajude a esclarecer quem são as outras e os outros.

4.2.12

O escritório no Natupile


Nesta fotografia, ao fundo, do lado esquerdo, vê-se um canto da vasta secretária de meu Pai no Natupile, lindíssima, em quarto de círculo, que referi quando falei do busto de Churchill.
No verso, com a caligrafia de minha Mãe, lê-se: "Antiga sala agora escritório".

3.2.12

A casa do Natupile



Tenho vasculhado as fotografias em busca de uma que mostre a casa do Natupile.
Até agora, esta é a única que encontrei que pode dar uma (pouco esclarecedora) ideia.
É captada mesmo em frente da casa, num espaço em semi-círculo, em frente a um largo caminho bordejado por laranjeiras para o qual se descia por uma escada de dois ou três degraus.
Ao fundo, havia um espaço  que tinha múltiplas funções: podia servir de eira para cereais, zona de seca de café ou de reunião ou para festas, como que referi neste post.
Ao lado de meu Pai, um militar cujas feições me não são estranhas mas     que 
sou incapaz de          identificar.

2.2.12

Citação XIII


Não acontece apenas que certas pessoas têm memória e outras não (...), mas, mesmo com memórias iguais, duas pessoas não se lembram das mesmas coisas. Uma terá prestado pouca atenção a um facto do qual a outra guardará um grande remorso, e em contrapartida terá apanhado no ar como sinal simpático e característico uma palavra que a outra terá deixado escapar quase sem pensar. O interesse de não nos termos enganado quando emitimos um prognóstico falso abrevia a duração da lembrança desse prognóstico e permite-nos afirmar em breve que não o emitimos. Enfim, um interesse mais profundo, mais desinteressado, diversifica as memórias das pessoas, de tal modo que o poeta que esqueceu quase tudo dos factos que outros lhe recordam retém deles uma impressão fugidia. 
De tudo isso, resulta que, passados vinte anos de ausência, encontramos, em lugar de esperados rancores, perdões involuntários, inconscientes, e, em contrapartida, tantos ódios cuja razão não conseguimos explicar (porque esquecemos também a má impressão que causámos). Até da história das pessoas que conhecemos melhor esquecemos as datas. 
Marcel Proust
O Tempo Reencontrado

1.2.12

Sualé, o esgrimista


Hoje, ao almoço, trocando memórias com o meu irmão Turita a propósito do blog, veio à baila o Sualé.
Não tenho fotografia que lhe retenha o rosto sorridente, o ar acriançado, a alegria permanente que o caracterizava e tornava irresistivelmente simpático.
Devia a isso, creio, alguma benignidade de que gozava em casa e que não era, habitualmente, propiciada ao restante pessoal.
Embora bastante mais velho que o Turita, partilhava com infantil entusiasmo as brincadeiras deste, por mais absurdas e inconvenientes que fossem - e Deus sabe como o meu irmão mais novo era fértil e inventivo nessa matéria.
Durante um certo período, dedicaram-se com entusiasmo a uns ferozes duelos de esgrima cujas armas evoluíram rapidamente de canas de bambu para uns enormes facalhões de cozinha.
O inevitável aconteceu e, num golpe mais conseguido, o Sualé atingiu o pulso do seu valoroso adversário provocando um ferimento assaz profundo, de tamanho considerável e que, sobretudo, sangrava abundantemente.
Seguiu-se o previsível: gritos, aflição maternal, algumas ameaças de terríveis castigos para os infractores,  protestos de inocência e arrependimento do Turita.
Quando o alvo da fúria materna se voltou para o Sualé, constatou-se que este tinha desaparecido na natureza. O Sualé foi procurado por toda a parte mas todas as buscas foram infrutíferas: volatilizara-se com a mesma rapidez e determinação com que desferira o golpe fatal.
Passados alguns dias, o Sualé reapareceu. Desconfiadamente, em passos cautelosos, por uma vez de semblante sério, aproximou-se do quintal, pronto a repetir a proeza da rápida fuga ao mais pequeno sinal de perigo. Acocorou-se a um canto, olhando à volta a medir a temperatura, enfrentou valentemente alguns gritos e ameaças de minha Mãe e, passadas umas horas já se ria abertamente, preparado, penso, para outras aventuras e tropelias imaginadaspelo “minino Turita”.
Este ainda hoje exibe com orgulho a cicatriz que nos recorda, à falta de fotografia, o amigo Sualé.

O Turita e eu. Que par!


Alguns anos se passaram  sobre a fotografia anterior. 
Porque estaria o Turita a chorar? Não fui eu, eu não fiz nada, juro!