27.2.12

O escritório

No edifício mais pequeno funcionava o escritório de "A. Augusto Dias & Cia. Lda.".
No maior, havia um armazém, uma oficinazinha e uma loja de "comércio geral", como se dizia, cuja entrada se vê.
Estacionado junto ao escritório está o Chevrolet mostrado aqui, repintado.
Em 1962,  acreditando que a greve e o "Luto Académico" decretados pelas Associações de Estudantes em resultado da proibição das comemorações do Dia do Estudante, de que se comemoram os 50 anos nos próximo dia 24 de Março, eram para "ir até ao fim", anunciei orgulhosamente aos meus Pais, cheio de veleidades revolucionárias (tinha sido recrutado para o PCP clandestino uns meses antes) que me recusava a fazer exames. 
Corria o mês de Maio. 
Em fins de Abril, juntamente com o Fernando Vilhena e o Arsénio, tinha ido, cerca da meia-noite, reconfortar o estomago com um bacalhau assado no Bolero, um bar na Mouraria, como preparação para uma madrugada de pichagens de paredes apelando à manifestação (obviamente proibida) do 1º de Maio. 
À saída do estabelecimento, fomos abordados por alguns indivíduos de péssimo aspecto que nos conduziram à Rua António Maria Cardoso, onde se situava a sinistra sede da PIDE.
Hei-de contar com mais vagar esta história.
Perante o meu combativo anúncio sobre a recusa dos exames, recebi ordens para regressar imediatamente a Montepuez e fui intimado a trabalhar, durante todo o período de longas "férias"que se seguiu. Passei, então, a ser acordado, todos os dias às 6h30 da manhã, dirigindo-me em seguida ao escritório, onde mergulhava nas delícias da contabilidade comercial.
O pior foi suportar a amarga ironia do meu Pai quando, pouco tempo depois, foi decretado o fim da greve e a Academia aceitou que se fosse aos exames.

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