O PÁTRIA, o navio referido no post anterior |
Nos anos 50, as viagens aéreas entre Portugal e as colónias,
sobretudo as mais distantes como Moçambique, eram, ainda, uma novidade
dispendiosa.
Os voos só tiveram início depois da Guerra, nos finais dos
anos 40, a viagem entre Lourenço Marque e Lisboa demorava vários dias, com mais
de dez escalas.
Só no início da década de 60, com a aquisição dos enormes
Super Constellation, os voos passaram a ser de 23 horas, com escalas em Luanda
ou Leopoldville (a actual Kinshasa) e Kano, na Nigéria.
O Super Constellation |
Por isso, uma viagem de pouco mais do que 10 dias, entre
Porto Amélia e Lisboa, nos confortáveis e luxuosos paquetes que faziam a “linha
de África”, com várias piscinas, divertimentos, bailes e festas, com magníficas
escalas na Beira, Lourenço Marques, Cape Town, Luanda, São
Tomé, Sal e Funchal era já (ou ainda, no caso de regresso) férias.
É muito persistente na minha memoria uma festa feérica
quando se passava a linha do Equador: a sirene do navio soava e alguns
tripulantes mais afoitos tentavam convencer as meninas que se sentia “um
saltinho” provocado pelo desnível entre as duas metades do planeta. Com
risinhos nervosos, as meninas fingiam ter medo e deixavam-se amparar na
expectativa do safanão (isto já sou eu a inventar).
Fiz ainda duas ou três dessas viagens e, afora os primeiros
dias de adaptação que eram marcados por fortes enjoos, foram dias de
brincadeiras e folguedos de que ainda hoje me lembro.
As duas principais companhias que operavam a “linha de
África” eram a Companhia Nacional de Navegação e a Companhia Colonial de
Navegação.
Hoje, desmantelada a marinha mercante portuguesa por curteza
de vistas e espírito tacanho, é difícil imaginar a pujança e tamanho das frotas
destas Companhias, compostas de dezenas de navios que serviam rotas para
África, para a América e para a Ásia.
A CNN e a CCN concorriam em grande equilíbrio , mantendo um
quase paralelismo nas suas frotas.
Os principais paquetes que faziam a ligação entre Portugal e
as colónias africanas eram, na CCN, o Pátria, o Império e o Infante D. Henrique,
a que correspondiam, na CNN, o Moçambique, o Angola e o príncipe Perfeito.
Quando chegavam aos portos mais isolados e distantes, eram
acolhidos em festas, com algazarra e excitação.
Lembro-me de, em Porto Amélia, serem organizados pelos
Comandantes dos navios, rutilantes jantares de gala, seguidos de baile, nas
salas e salões sumptuosos, que deixavam frustradas as crianças, relegadas para
umas festarolas à tarde à volta da piscina, mesmo assim com um lanche e
guloseimas.
Essas viagens foram das mais exaltantes aventuras da minha infância.
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