Hoje, ao almoço, trocando
memórias com o meu irmão Turita a propósito do blog, veio à baila o Sualé.
Não tenho fotografia que lhe
retenha o rosto sorridente, o ar acriançado, a alegria permanente que o
caracterizava e tornava irresistivelmente simpático.
Devia a isso, creio, alguma
benignidade de que gozava em casa e que não era, habitualmente, propiciada ao
restante pessoal.
Embora bastante mais velho que o
Turita, partilhava com infantil entusiasmo as brincadeiras deste, por mais
absurdas e inconvenientes que fossem - e Deus sabe como o meu irmão mais novo
era fértil e inventivo nessa matéria.
Durante um certo período,
dedicaram-se com entusiasmo a uns ferozes duelos de esgrima cujas armas
evoluíram rapidamente de canas de bambu para uns enormes facalhões de cozinha.
O inevitável aconteceu e, num
golpe mais conseguido, o Sualé atingiu o pulso do seu valoroso adversário
provocando um ferimento assaz profundo, de tamanho considerável e que,
sobretudo, sangrava abundantemente.
Seguiu-se o previsível: gritos,
aflição maternal, algumas ameaças de terríveis castigos para os
infractores, protestos de
inocência e arrependimento do Turita.
Quando o alvo da fúria materna se
voltou para o Sualé, constatou-se que este tinha desaparecido na natureza. O
Sualé foi procurado por toda a parte mas todas as buscas foram infrutíferas:
volatilizara-se com a mesma rapidez e determinação com que desferira o golpe
fatal.
Passados alguns dias, o Sualé
reapareceu. Desconfiadamente, em passos cautelosos, por uma vez de semblante sério,
aproximou-se do quintal, pronto a repetir a proeza da rápida fuga ao mais
pequeno sinal de perigo. Acocorou-se a um canto, olhando à volta a medir a
temperatura, enfrentou valentemente alguns gritos e ameaças de minha Mãe e,
passadas umas horas já se ria abertamente, preparado, penso, para outras
aventuras e tropelias imaginadaspelo “minino Turita”.
Este ainda hoje exibe com orgulho a cicatriz que nos recorda, à falta de fotografia, o amigo Sualé.
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