1.2.12

Sualé, o esgrimista


Hoje, ao almoço, trocando memórias com o meu irmão Turita a propósito do blog, veio à baila o Sualé.
Não tenho fotografia que lhe retenha o rosto sorridente, o ar acriançado, a alegria permanente que o caracterizava e tornava irresistivelmente simpático.
Devia a isso, creio, alguma benignidade de que gozava em casa e que não era, habitualmente, propiciada ao restante pessoal.
Embora bastante mais velho que o Turita, partilhava com infantil entusiasmo as brincadeiras deste, por mais absurdas e inconvenientes que fossem - e Deus sabe como o meu irmão mais novo era fértil e inventivo nessa matéria.
Durante um certo período, dedicaram-se com entusiasmo a uns ferozes duelos de esgrima cujas armas evoluíram rapidamente de canas de bambu para uns enormes facalhões de cozinha.
O inevitável aconteceu e, num golpe mais conseguido, o Sualé atingiu o pulso do seu valoroso adversário provocando um ferimento assaz profundo, de tamanho considerável e que, sobretudo, sangrava abundantemente.
Seguiu-se o previsível: gritos, aflição maternal, algumas ameaças de terríveis castigos para os infractores,  protestos de inocência e arrependimento do Turita.
Quando o alvo da fúria materna se voltou para o Sualé, constatou-se que este tinha desaparecido na natureza. O Sualé foi procurado por toda a parte mas todas as buscas foram infrutíferas: volatilizara-se com a mesma rapidez e determinação com que desferira o golpe fatal.
Passados alguns dias, o Sualé reapareceu. Desconfiadamente, em passos cautelosos, por uma vez de semblante sério, aproximou-se do quintal, pronto a repetir a proeza da rápida fuga ao mais pequeno sinal de perigo. Acocorou-se a um canto, olhando à volta a medir a temperatura, enfrentou valentemente alguns gritos e ameaças de minha Mãe e, passadas umas horas já se ria abertamente, preparado, penso, para outras aventuras e tropelias imaginadaspelo “minino Turita”.
Este ainda hoje exibe com orgulho a cicatriz que nos recorda, à falta de fotografia, o amigo Sualé.

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