23.10.11

Jacintinho e pai Jacinto







Tratava-se, certamente, de uma ocasião solene, tendo em conta os atavios muito cuidados dos gandulos da primeira fila.
O peso percentual da “tribo” é esmagador: toda a fila da frente (da esquerda para a direita, este que vos escreve, o primo Lelo, o Turita de solenes suspensórios bávaros, os primos Augusto Zé e Beto); entre as meninas, à esquerda, uma jovem ainda não identificada com segurança (já me foram sugeridos os nomes de Celeste ou Sara), a minha prima Fernanda, uma face escondida que deve ser a minha irmã Lena, a minha prima Teresa Ferreira (irmã do Augusto Zé), atrás dela, altíssima, a Laurinda, que havia de ser também minha prima depois de casar com o Abraãozinho, e a prima Belita com um bebé (não identificado) ao colo.
Também à esquerda, ostentando uma conspícua boina basca, o Jacintinho.
O Jacintinho era da nossa criação e, quando muito, um nadinha mais velho do que o Beto. Como se constata na foto, era menino de impressionante envergadura, qualidade que acompanhava uma invulgar falta de jeito para as actividades que exigiam destreza ou alguma violência. Tímido e sensível, o Jacintinho dificilmente se libertava da redoma em que a Mãe o mantinha. Hoje, diríamos que era uma criança emotiva e de lágrima fácil; na altura, preferíamos o epíteto de “chorão”.
Herdara a compleição hercúlea do Pai Jacinto.
Deste último dependia, em grande medida, a iluminação eléctrica de Montepuez, uma vez que, sendo electricista, tinha a seu cargo o funcionamento e manutenção do gerador.
O senhor Jacinto, tinha, ao contrário do seu rebento, uma voz tonitruante correspondente ao tamanho do corpanzil e era muito, mesmo muito desconfiado.
Sendo a “sua” iluminação pública ainda muito incipiente e escassa, havia energia suficiente para o interior das casas mas o exterior mantinha-se na escuridão (que, em África, pode ser profunda).
Rezam as crónicas que, sentado à mesa do jantar, o senhor Jacinto soltava, de quando em quando e a intervalos irregulares, um grito, audível a grande distância no silêncio (que, em África, pode ser profundo como a escuridão...) : “ENTRE!”, era o insólito convite que o grito transmitia.
Continuam a rezar as crónicas que, inicialmente, este hábito criara na Mãe e no inocente Jacintinho alguma perplexidade e até medo); à terceira ou quarta vez, a D. Isolina inquiriu das razões daquele procedimento: “Ó homem, não está ninguém lá fora; se estivesse, batia à porta ou chamava…”.
O senhor Jacinto terá respondido com um tom explicativo: “Cala-te, mulher! Podem estar lá fora a escutar à porta ou a espreitar pela janela. Assim se gritar, pensam que nós os ouvimos, ficam envergonhados e vão-se embora!”.

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