30.11.11

Tia Mariana e Tio Serafim

A Tia Mariana e o Tio Serafim fazem parte das "lendas" da tribo.
O Tio Serafim desapareceu prematuramente mas a Tia Mariana, "tão irreverente quanto encantadora", como diz o Lelo, sobreviveu-lhe por longos anos. Ela era a alma e o esteio da Pensão de que falei aqui, que ambos fundaram, onde se comia excelentemente e que foi, durante decénios, o único estabelecimento hoteleiro de Montepuez.
A Tia Mariana era a alegria personificada, cheia de expressividade e encanto.

Foto enviada pelo Lelo com a legenda"O Russo primogénito (Serafim) e a nossa tia tão irreverente quanto encantadora..."
O Tio Serafim, que era originalmente da Guarda Fiscal, emigrara para Moçambique.
Quando o seu Pai Joaquim Russo morreu, julgo que durante os anos 30, em Figueira de Castelo Rodrigo, terra de naturalidade de todos eles, o Tio Serafim fez ir para Moçambique, primeiro para Lourenço Marques e, mais tarde, para Montepuez, a sua Mãe viúva, a Avó Maria da Nazaré Nunes Russo e as suas Irmãs, Silvina, que casou com o Tio Júlio Ferreira, Conceição, que casou com o Tio António Teixeira, Ana Maria (Aninhas), que casou com o Tio Joaquim Ramalho, Adelaide, minha Mãe, casada com meu Pai Artur Augusto Dias, e Irene, que casou com o Tio Aires Rocha.
Estão, assim, listados aqueles que foram as raízes da minha tribo.

Macua - 1


Começo hoje uma pequena série sobre os macuas, o grupo predominante em Montepuez, e a sua língua.
Os macuas são um grupo etnico-linguístico de cerca de 3 milhões e meio de pessoas – o que faz dele o mais importante de Moçambique – e ocupam um território de cerca de 200 mil Km2, que se estende pelas Províncias de Nampula, Cabo Delgado, Niassa e Zambézia.
Habitam estas regiões desde o sec. XV, integrados numa grande migração que teve início no Sec.XI, vindos, provavelmente, do que é hoje é a República Democrática do Congo.
Contudo, segundo os seus mitos ancestrais, foram criados pelo Mulungo ou Muluco (Deus) que os fez brotar da floresta , no Monte Namúli, na Zambézia.
Existem 7 ou 8 variantes da língua macua, entre as quais as mais importantes serão o macua-lomué, o macua-marevone e o macua-meto (ou met) que é fala do em Pemba, Montepuez, Balama, Meloco, Macomia e Mocímbua.
Existem vários dicionários e gramáticas do macua.
 O meu Pai tinha compilado, para sua própria utilização, uma espécie de gramática/dicionário de macua, língua que falava correntemente e que, como dizia e oportunamente relatarei, “aprendeu ao mesmo tempo que o português”.
Contudo, os trabalhos mais sólidos nesta matéria parecem ser os dos Padres António Pires Prata e
Alexandre Valente de Matos.
Mas para quem desejar um pequeno e operacional dicionário de macua (na sua versão dita “central”, falada em Nampula e no Niassa) pode recorrer ao site da lidemo.net onde encontrará um instrumento adequado (http://lidemo.net/vocabulrio-de-emakhuwa-emeetto-2/).


29.11.11

A "casa nova" do Tio Ramalho!!!

Nos anos 60, a casa parecia, aos olhos da miudagem de Montepuez, uma exemplo de arquitectura arrojadíssima! Lembro-me de achar muito original e bonita a forma mais ou menos ovalada da entrada para o alpendre.
A "casa nova" nova do Tio Ramalho foi, durante muito tempo, um must da Vila, tema de conversa e admiração.

Fotografia cedida pelo Lelo

Fotografia cedida pelo Lelo




Na foto mais pequena podem ver-se, da esquerda para a direita, o feliz proprietário, a Tia Irene e o Tio Rocha.

28.11.11

Apontamento sobre as origens históricas de Montepuez (6)


A população de Montepuez pertence ao grupo étnico (eu prefiro dizer grupo socio-cultural) Medo ou Meto. Na área do Distrito, com a população Macua-Medo coabitam dois clãs ajaua: um na sede (regedoria Mepima) e outra em Namuno (regedoria Macande). A sul, numa faixa de 25 quilómetros de profundidade marginando o rio Lúrio e na área do posto de Namuno, habita um grupo Macua.

Bandeira da Cidade de Montepuez
A planta comercial da povoação só foi aprovada em 1950, pela portaria nº 8.375 de 20 de Maio desse ano. A povoação teria que aguardar mais cinco anos até ver aprovadas as suas plantas geral e especial[1]. Em Março de 1959 foi extinta a circunscrição de Montepuez e criado em sua substituição o Concelho com o mesmo nome. A mesma portaria dotou o Concelho de uma comissão municipal e a consequente elevação da povoação de Montepuez a vila[2]. Em 1962, é concedido à vila de Montepuez o privilégio de usar escudo e armas e bandeira própria[3].

Nota minha: a 8 deOutubro de 1971, Montepuez foi elevada à categoria de Cidade e, em consequência, a 10 de Janeiro de 1972, a Portaria 9/72, adapta o seu Escudo de Armas, a Bandeira e o Selo que passam a ser:
"Armas: de negro carregado de três cápsulas de algodão de prata, surtidas de pedúnculos de verde e ouro. Coroa mural de prata de cinco torres. Listel branco tendo inscrito, em caracteres negros, «Cidade de Montepuez».Bandeira: gironada de branco e verde, cordões e borlas de prata e verde. Lança e haste douradas.Selo: dentro de listel circular com as palavras «Câmara Municipal de Montepuez», a mesma composição de armas sem a indicação dos esmaltes."

A maioria da população do actual Distrito de Montepuez segue os ritos e práticas animistas. Porém, é importante considerar, numa percentagem significativa, os seguidores do Islão. A religião islâmica, cuja presença na costa é secular (e, por isso, mais influente do que no interior), teve grande aceitação entre os Medo por muitas das suas práticas e preceitos se conciliarem com as práticas culturais locais. Isso talvez explique as práticas sincretistas a que facilmente aderem os Medo, que assim mantêm quase intactas as suas práticas animistas. Mas, sincretismos há-os na região, como aliás em todo o Moçambique, de várias origens religiosas!

O cristianismo começou as suas incursões na região ainda no século XIX, quando, em 1893 se noticia uma tentativa da Igreja Católica de fundar no Medo uma missão, por iniciativa do prelado António Barroso. Em 1906, a IC, através do Bispo D. Francisco Ferreira da Silva, volta a manifestar a necessidade de se criar na região uma missão católica. Porém, é só em Maio de 1921 que chegam a Namuno os primeiros padres missionários, provavelmente holandeses, vindos da Niassalândia (hoje Malawi).

Está ainda em actividade na região do Medo, a missão de São José (Montepuez)[4], que durante muitos anos foi assistida pelos padres holandeses monfortinos com o apoio de irmãs italianas da Ordem Consolata. Creio que hoje a missão é assistida também por padres moçambicanos, na linha do que foi a moçambicanização do clero, um pouco por toda a parte, após a independência do país. Até à independência, existiam ainda as missões católicas de São Luís de Monfort (Mesa), Santa Maria (Namuno)[5] e São Francisco Xavier (Balama), também elas regidas pelos padres holandeses monfortinos. Creio que hoje, algumas destas missões estão desactivadas e não sei que uso foi dado às excelentes (para a época, pelo menos!) instalações e infraestruturas que os missionários ali montaram.

Existia [NB: não tenho a certeza de ainda existir...] uma representação da Missão de Combate à(s) Tripanosomíase(s) [MCT], em Balama, onde funcionava um hospital privativo, dotado de equipamento adequado, um médico e pessoal de enfermagem devidamente habilitado, que percorriam regularmente as áreas infectadas pela mosca do sono. O Chefe da MCT, pelo menos até ao início da década de 60, foi o dr. Raul Nunes Sintra (Balama).

Nota minha: Falei do Dr. Cintra aqui. Houve outro médico de Balama, sucessor do Dr. Cintra, que lá deixou marca também, o Dr. Rui Pinto do Carmo a quem chamavam o "doutor preto". Era casado com uma Senhora encantadora, a Srª. D. Agostinha.

Em toda a área do distrito se cultiva o algodão, a principal cultura de rendimento. Actualmente o tratamento e a comercialização do algodão recolhido está a cargo de uma empresa de capitais maioritariamente britânicos, a LOMACO, que aqui se instalou na década de 80 do século passado, substituindo-se à SAGAL que foi, durante meio século a empresa algodoeira de referência nesta zona.

Nota minha: Já falei da Sagal aqui e aqui.

A cultura do algodão foi sempre praticada na região pelas famílias africanas. Já na ponta final do século XIX, a produção do algodão chegou a atingir as duas toneladas por ano, o que começava a justificar a sua comercialização. Até às primeiras décadas do século XX, na área do distrito de Montepuez, o algodão era adquirido por agentes intermediários (indianos, sobretudo) e pequenos armazenistas portugueses instalados no mato, para depois ser vendido a compradores franceses radicados nas ilhas do Índico (Reunião, Maurícia e Madagascar).

A partir da década de 30, especialmente a partir de 1938, com a criação da Junta de Exportações do Algodão Colonial (JEAC), a cultura do algodão passou a estar sujeita a um regime de cultivo obrigatório, em que os agricultores eram obrigados a produzir segundo uma quota imposta pela autoridade colonial, através da JEAC. O algodão era levado pelos agricultores para mercados controlados pelo governo, que estabelecia também os preços e depois entregue às empresas algodoeiras, neste caso a SAGAL. Dados estatísticos oficiais apontam para uma produção, em 1955, de cerca de 15 mil toneladas só na área do Distrito de Montepuez.

Com a passagem do monopólio para a LOMACO, esta empresa decidiu não investir na cultura directa, em áreas de plantação própria, preferindo antes investir na produção familiar. Paralelamente ao cultivo do algodão para comercialização, os agricultores moçambicanos produzem para sustento nas suas machambas onde cultivam, entre outros produtos, o milho, a mandioca e o feijão nhemba.

Outra das riquezas e fonte de rendimento importante de Montepuez é o mármore, cuja exploração comercial se começou a fazer nos anos sessenta do século passado. Aqui se extra mármore de excelente qualidade, que é depois exportado para mercados diversificados, nomeadamente para Portugal. A maior empresa actualmente é a Marmonte, de capitais portugueses (c. 80%) e moçambicanos (c. 20%). Existe em Pemba uma fábrica de corte e polimento que é detentora de equipamento moderno e sofisticado. Segundo dados oficiais, saiem de Pemba em média, mensalmente, de 5 a 6 contentores com destino à Europa.

A população do Distrito de Montepuez hoje, deve rondar as 200 mil pessoa se não mais. Tenho dados estatísticos para 1950 que indicam que a população total do Distrito era de 130.344 pessoas. Na localidade sede do Concelho de Montepuez destacam-se 5 áreas: Centro, Nepara, Sanina, Sagal e Missão. Não estou bem recordado, mas tenho a ideia de que o mais importante régulo da sede do Distrito, ou o que mais prestígio tinha, era o Régulo Mepima [Poderá o Turita confirmar isto?]. Na área de Balama era, indiscutivelmente, o Mualia. Ainda conheci o filho mais velho do último Mualia, cujo nome não recordo, na década de 80, aqui em Maputo; tinha viajado com o tio Augusto de avião para Maputo e foi-me apresentado, salvo erro, mesmo no aeroporto! Em Namuno, lembro-me de ouvir a tia Silvina ou o tio Júlio (ou ambos) falar muito no Régulo Namicópué ou Namacópué; presumo, por isso, ser ali o mais prestigiado dos régulos. Havia ainda o Régulo Pitacula, de Melôco, famoso pela reverência relativamente à autoridade portuguesa, mas que tinha um enorme prestígio em todo o Distrito. Era o maior contribuinte em termos de imposto(!), mas talvez por ser o regulado mais populoso do Distrito.

Nota minha: Falei do Mualia várias vezes, do seu antigo poder e prestígio e do facto de o Natupile se encontrar nos seus territórios; falei aqui, também, do seu filho (referido no texto acima e nosso companheiro de brincadeira), de cujo nome julgo, agora, lembrar-me: Manuel.

Aqui ficam algumas notas (modesto contributo...) sobre a história de Montepuez. Tenho mais elementos dispersos por várias caixas de arquivo e alguns documentos já referenciados no Arquivo Histórico, que, com tempo, vou certamente escrever mais alguma coisa sobre a terra.  


Maputo, Outubro/Novembro de 2011


     Aurélio Rocha












[1]. Aprovadas pela portaria nº 11.146 de 12 de Novembro de 1955. 
[2]. Portaria nº 13.011 de 7 de Março de 1959, Boletim Oficial nº 10/1959.
[3]. Diploma Legislativo nº 2.279 de 18 de Setembro de 1962, Boletim Oficial nº 37/962, 3º suplemento.
[4]. Criada em 1939 pela Portaria nº 3.850, Boletim Oficial º 42/1939. 
[5]. A mesma Portaria nº 3.850 criou a Missão de Santa Maria, em Namuno. 

26.11.11

Um grupo

Esta é uma das poucas fotos de um grupo em que, na colecção, a tribo não tem uma presença esmagadora.
Deve ter sido tirada junto à sede do Glorioso Atlético; da tribo, reconheço o Almeida no centro e atrás de todo o grupo, meu Pai exactamente à frente dele e o Tio Ramalho acocorado no lado direito.
Há muitas figuras de que não me lembro e algumas que identifico; entre estas, espero ainda falar de alguns personagens de que guardo lembranças.


Carnavais VI



Eu e a Lena com o seu traje de minhota já atrás mostrado.
Como já disse, as afantasias transitavam de ano para ano, claro, mas também circulavam pelos pequenos foliões.
Pode verificar-se comparando com com esta fotografia.

Com o Baptista



Meu Pai, Lena, minha Mãe, o Baptista e o Turita.
O Baptista, segundo julgo, estava na altura a tomar conta do Natupile.

Santinho de pau crunchoso





Ao lado de minha Mãe, no Natupile, o Turita com ar seráfico.
A avó Nazaré, se o tivesse visto de aparência tão bem comportada, teria comentado: 

"ou já a pregaste ou estás para a pregar,malandro!"

25.11.11

Memória Colonial IV


O meu amigo João Paulo Guerra é um grande jornalista que tem, também, publicado livro sobre temáticas várias e se aventurou já pelos domínios da ficção.
Não é o caso deste “O Regresso das Caravelas”, um muito interessante relato sobre a descolonização que abrange ainda os tempos anteriores e imediatamente posteriores às Independências das ex-colónias.
João Paulo Guerra dá a palavra a alguns dos protagonistas desses tempos agitados e traumáticos, através de factos inseridos nos processos que levaram aqueles países à Independência e na própria evolução da política portuguesa, desde a recusa salazarista de negociação ou, sequer, de contactos com os movimentos independentistas até às tumultuosas relações entre Spínola, Marcelo e a ala extremista do regime e, claro, o post-25de Abril.
O João Paulo não esconde as suas orientações políticas anti-coloniais que vêm de antes de 1974 mas, como excelente jornalista que é, não deixa que elas contaminem a descrição dos factos históricos nem os retratos dos que se pronunciam sobre eles.
“O Regresso das Caravelas” faz parte de bibliografia sobre as memórias do nosso passado (cada vez menos) recente e é uma leitura proveitosa para quem sobre elas se debruça.

Descolonização Portuguesa – O Regresso das Caravelas  
João Paulo Guerra
Ed. Oficina do Livro

24.11.11

Mais tribo

Lelo: "Esta foi tirada à frente da minha casa... - Ermelinda, meu pai, minha mãe, tia Mariana e o Zé Ramos (1958-59)."


Ermelinda, Tio Rocha, Tia Irene com o Zé Ramos (filho da Ermelinda) e Tia Mariana.

23.11.11

Apontamentos sobre as origens históricas de Montepuez (5)


Em  9 de Março de 1916, a Alemanha declarou guerra a Portugal.* No ano de 1917 registam-se combates na região do Medo entre as forças portuguesas e alemãs, tendo estas atacado o posto de Montepuez no dia 10 de Julho de 1917. Registam-se mais combates em 3, 6, 7 e 8 de Novembro de 1917. Em 8 de Novembro dá-se o combate de M´kula. As terras do Medo foram palco de combates até finais de 1917, tal como as terras maconde.

Na década de 20, o imposto de palhota já era cobrado regularmente em toda a região do Medo. Enquanto em 1903 foram para o posto do Medo 500 bilhetes de imposto, em 1927/29 eram já 35 mil os bilhetes de imposto cobrados. Estavam isentos de imposto os «indígenas» menores de 13 anos e maiores de 60 anos. Em 1927 (outros referem que foi em 1923!), passou pela primeira vez um carro pela estrada Montepuez-Namuno-Nanripo. O carro era do chefe do posto, tenente Carmona (seria o Carmona que depois foi PR com o Salazar?). *2

Em 14 de Setembro de 1929, o Governador Geral José Cabral mandou publicar no Boletim Oficial um Diploma Legislativo que, provisoriamente, dividia os distritos de Cabo Delgado e Niassa, em 13 circunscrições civis, correspondentes aos 13 concelhos e 33 postos administrativos, em que estavam sub-divididos os territórios do Niassa[1]. Em Outubro deste mesmo ano, cessou o contrato de concessão à majestática Companhia do Niassa, cujo território passou definitivamente a estar sob administração directa do Estado Português[2].

Montepuez foi a oitava circunscrição civil criada no distrito de Cabo Delgado, com sede na povoação de Montepuez e dividida em 4 postos administrativos: Meloco, Balama, Namuno e Nungo. Mais tarde, o Nungo passou para a jurisdição de Marrupa(?), no Niassa. Estranhamente, em 1931, uma portaria manda criar a povoação comercial de Montepuez, quando já era sede de circunscrição, criada em 1929[3]. Em 1950, a portaria nº 8.375 aprovou a planta da povoação de Montepuez[4].

Em 1931/32, 1932 e 1933 são várias as informações relacionadas com o algodão. Há referências à SAGAL. Nesta data, o governo obriga já os «indígenas» a cultivar algodão. É mencionado o administrador de Montepuez, de seu nome José da Costa (tenente do exército), que tem fama de rigoroso e cujas medidas terão provocado muitos milandos (milatu). [NB: não será o tristemente célebre José de Castro? Parece haver aqui uma distorção do nome..., mas no documento vem assim!].*3

A área aproximada da Circunscrição de Montepuez era, nos anos 60, de 24.500 quilómetros quadrados. Na mesma data, os seus limites eram, em 1965: a Norte, as circunscrições de Quissanga e Macondes; a Sul, o rio Lúrio e a circunscrição de Ribaué; a Leste, o concelho de Porto Amélia (Pemba) e a circunscrição de Mecúfi; a Oeste, a circunscrição de Marrupa. Tinha sob sua jurisdição, além do posto-sede, os postos administrativos de Namuno, Balama e Meloco. Entre 1940 e 1950 foram criadas as povoações comerciais de Meloco, Namuno, Balama, Namanhumbire, Nanripo, Nicócué, Muico, Maringa, Mesa, Napá e Inquinjir. Na década de 40, Namuno, Balama e Melôco foram elevados à categoria de posto administrativo.




[1]. Boletim Oficial nº 37, I Série.
[2]. O Decreto nº 16.757 de 20 de Abril mandava que em 27 de Outubro cessasse a delegação de atribuições do Estado à Companhia do Niassa.
[3]. Portaria nº 1.379 de 11 de Julho de 1931, Boletim Oficial nº      /1931.
[4]. Portaria nº 8.375, Boletim Oficial nº 20/1950. 





Nota minha – Ver a série “Montepuez na Grande Guerra”
*Nota minha – Julgo que não. Não consta que o Marechal Carmona que foi PR de Salazar tenha tido qualquer passagem pelas colónias. Era “maçon”, combateu na Flandres e, depois, tornou-se um dos típicos oficiais-politicos que enxamearam a I República. Foi Presidente do Tribunal Militar (julgou, por exemplo, os acontecimentos de 19 de Outubro de 1921, o chamado caso da “Camioneta Fantasma” e os assassinatos dos “Heróis da Rotunda” Machado dos Santos e Carlos da Maia.
*Nota minha  Não sei se esse a que o Lelo se refere mas ainda conheci um José de Castro, já muito velho, um indefectível monárquico, sempre vestido de branco e de calções, com um capacete colonial; lembro-me de uma visita a Porto Amélia do então Duque de Bragança e pretende ao trono, o D. Duarte Nuno, e de ter sido o José de Castro a “fazer as honras”. Lembro-me, também, da estranheza que senti ao vê-lo beijar a mão do homenzinho de bigode. Eu teria 9 ou 10 anos e, durante uns meses, fui um convicto monárquico!!

Outra pose. A comparar com esta aqui.

22.11.11

Nairoto em festa - a tribo em peso
A fotografia foi-me enviada pelo Lelo e a legenda é da sua autoria.
É pena que a qualidade não seja excelente, o que não permite reconhecer todos os personagens.
Mesmo assim, no canto inferior esquerdo, sentados no degrau, o Turita fazendo continência e a Teresa Russo Ferreira; atrás, Tia Aninhas, Belita e Fernanda; em frente à coluna, o Tio Teixeira; depois, a minha Mãe, o meu Pai, o Tio Rocha e a Tia Mariana.
Não identifico as duas crianças de chapéu de palha de abas largas.
A seguir, a Tia Irene, Tia Conceição (?), uma Senhora que não reconheço.
O jovem (Beto? Lelo?) também está indistinto.
Por fim, atrás, no lado direito da foto, o Tio Ramalho.
Alguém tem uma versão mais nítida desta fotografia?

Apontamentos sobre as origens históricas de Montepuez (4)



Em 1905 foi pela primeira vez cobrado o imposto de palhota no Concelho do Medo, com sede em Mualia. Havia no posto de Mualia 50 soldados. Em 20 de Setembro de 1908, a sede do concelho do Medo foi tranferida para a serra Nachila (!) [está assim no documento que consultei]. Deve ter sido só em 1910 que a região do Medo foi efectivamente ocupada, na altura em que era chefe do concelho um tal de nome Tavares(!), que os locais apelidaram de «kharamo» (leão), por causa das suas manhas e barbaridades cometidas.

Em Junho de 1911 foi estabelecido um posto no Mole (Nanthepo, Nantato). Em Outubro de 1912 foi submetido o grande Mataca (Ajaua),* após o que foi considerada ocupada toda a região do Niassa (Companhia do Niassa). Em 1913 fala há referências à existência de um posto em M´loco (Meloco). Neste ano foi ainda instalado um posto em Namuno em substituição do posto de Mole, que foi extinto. Das terras do Mole tinham fugido muitos indígenas, em consequência dos maus tratamentos infligidos pelo chefe de posto. Em 1913 e 1914, a sede do Concelho do Medo estava ainda em Mualia.

Em 31 de Março de 1916, a sede do Concelho passou para Namuno. A sede do Concelho do Medo volta a ser transferida em Dezembro de 1916, desta vez para Montepuez. É a primeira vez que aparece o nome de Montepuez como povoação importante (sede de Concelho) na região. Em 1917, é mencionado pela primeira vez o posto de Balama. Na mesma informação diz-se que  o posto de Mualia está vago. É assinalada, em 1921, a presença do comerciante indiano, Selemane Ali, como tendo aberto loja em Namuno, na povoação de Chacame. Em Fevereiro de 1926 são criadas povoações comerciais em Namuno e Balama.


*Nota minha - O poder real do Mataca manteve-se ao longo dos tempos e a disposição anti-portuguesa dos Ajauas de que ele era o principal potentado também.
Como uma grande parte deles aderiu à FRELIMO, a Administração Portuguesa tentou, através da captura do grande régulo, inverter a situação. Mas, de facto, enquanto o Mataca esteve detido, houve um acentuado recrudescer das actividades "subversivas" dos Ajauas da influência que ele exercia sobre os elementos daquela etnia.
O Mataca viria a ser resgatado pela FRELIMO, numa operação comandada pelo próprio Samora Machel [ver Francisco Miguel Garcia in "Análise Global de uma Guerra (Moçambique 1964-1974) - Out / 2001]

21.11.11

Teixeira & Ramalho

Fotografias cedidas pelo meu primo Lelo Rocha

Nos anos 60, quando o meu Pai tomou conta da loja Teixeira & Ramalho, por razões que referi aqui, decidiu que uma designação mais apelativa e condizente com a importância do estabelecimento.
Nasceu, assim, o CENTRO COMERCIAL DE MONTEPUEZ, nome que, orgulhosamente, ornamentou, durante bastante tempo, a fachada do velho edifício. 
Já disse que o meu Pai era um pouco visionário e inovador. Esse espírito, contudo, nem sempre era acompanhado de um sentido dos negócios grandemente apurado e alguns empreendimentos acabaram por não ser tão grandiosos como os sonhos que lhes davam origem.
Mas o Teixeira & Ramalho, com esse nome ou sem ele, perdurou até à sua morte. 

1000!




O blog atingiu as 1000 visitas.
Em termos absolutos não é muito. O blog tem 7 meses (os primeiros posts datam de 6 de Maio) e, portanto, a média de diária de visitas é muito baixa. No fim do primeiro mês, só tinha havido 34 acessos.
No entanto, em Setembro verificou-se um salto enorme e, em Outubro, o número de visitas tinha crescido para 387.
Actualmente, a média diário oscila entre 17 e 30 (ontem, domingo, foram 45).
Note-se que falo de VISITAS e não de VISITANTES; isso porque há visitantes “fiéis” que acedem ao blog quase todos os dias ou mesmo todos os dias, há os esporádicos que vêm de vez em quando e há os que, por alguma razão, “descobrem” o blog (normalmente através do Google ou de outro motor de busca) e não voltam.
Seja como for, a natureza intimista e familiar deste espaço limita, forçosamente, o número de interessados.
A localização dos visitantes (ou “audiência”, na terminologia do Blogger) também é interessante: a grande maioria está em Portugal – o que seria de esperar – e eleva-se a mais de seiscentos. Seguem-se Alemanha e Moçambique, ambos os países com 107; Estados Unidos (70), Rússia  (55), Brasil (24) e Canadá (17). Depois, os países em que os visitantes são, evidentemente, daqueles que “não voltam”: Reino Unido (4), Singapura (3) e Austrália (2).
Àqueles que são mais assíduos, gostaria de fazer alguns pedidos/sugestões:
primeiro, que se inscrevam como “seguidores”, clicando no botão “Join this site” e seguindo os passos indicados;
segundo, que façam comentários, enviem mensagens ou sugestões (para os “neófitos”, basta clicar em “comentários” – que aparece logo abaixo de cada post ); o comentário pode ser anónimo…;
o terceiro pedido, é que contribuam, por e-mail ou através dos comentários, com recordações, informações, fotografias ou, apenas, dando o vosso contacto, se estiverem interessados.
Voltarei ao assunto quando atingirmos os 2000.

19.11.11

Primos



Eis-me, enquadrado pelos primos mais crescidos; à esquerda, o Zé Maria Teixeira - o mais velho - já com a pose e o estilo "jamesdeaneano" que viria a adoptar alguns anos mais tarde; à direita, o Júlio Ramalho, actualmente em São Paulo; atrás, de pé, o Joaquim Russo Ferreira.




A fotografia foi tirada no court de tenis do Clube, o Glorioso Clube Atlético de Momtepuez, de que o Júlio e o Joaquim viriam a ser estrelas.

Apontamentos sobre as origens históricas de Montepuez (3)




As referências à região do Medo remontam a, pelo menos, meados do século XIX, quando em 1857 se anuncia que alguns dos principais régulos Medo prestaram vassalagem. Um dos grandes régulos da região, se não o principal, era já nesta altura o Mualia. Em 1893 reinava no Medo o régulo Mualia Anamiri. Sabe-se que em 1888 tinha falecido o régulo Mualia Midala, a quem sucedeu o Mualia Nicolo. Em 1878 dizia-se que a maioria dos produtos que se exportavam pela alfândega do Ibo provinham do Medo.

Em 27 de Outubro de 1894, o norte de Moçambique (os actuais Niassa e cabo Delgado) passa a ser administrado pela majestática Companhia do Niassa, cujo contrato será dado por terminado em 1929, retomando o Estado português a administração do território[2]. Em 1896 já existia um posto militar português no Mualia, de que era chefe um tal José da Silva Correia.

Em Maio de 1899, foi criado o Concelho do Medo, estabelecendo-se a sua sede nas terras do régulo Mueri, junto à serra de Nanripo. Em Julho do mesmo ano, foi reconfirmado o posto militar nas terras do régulo Mualia, que aqui se mantinha ainda em Dezembro, apesar da constante oposição da população local, que por mais de uma vez o atacou. Em 28 de Junho de 1899 terá mesmo havido um violento ataque dos homens de Mualia ao posto. São ainda referidos ataques nos dias 25 de Julho e 17 de Agosto.

Um documento de arquivo refere que em Agosto de 1900, o posto de Mualia foi visitado por uma embaixada do régulo Mahua, que ali foi com o pretexto de “prestar vassalagem”. Dessa visita parece ter resultado um acordo para instalar um destacamento militar em Mahua, o que veio a acontecer em Fevereiro de 1901.

Em 1903 estava em construção uma estrada entre Mualia e Montepuez. Neste ano fala-se na submissão total do Mualia, mas na verdade, essa submissão consistia apenas no compromisso em não atacar as forças e postos portugueses. Há informações que dão conta de as forças do Mualia estarem equipadas com armas de fogo. Em Setembro e Outubro de 1903, o Mualia fez exercício de fogo com a sua gente, ouvindo-se tiros na povoação a pequena distância do posto militar português.

O régulo Mualia “havia tanto tempo rebelado”, é dado com definitivamente submetido em 1905. Uma informação dá conta de muitas mulheres e crianças terem sido apanhadas pelos soldados, encerradas em palhotas, que a seguir foram incendiadas. Essa terá sido a forma de submeter o régulo Mualia, que foi preso e deportado para local desconhecido, mas muito provavelmente para a Ilha do Ibo ou a Ilha de Moçambique.


[2]. O Governo Português concedeu, por arrendamento, à Companhia do Niassa os territórios a sul do Rovuma e a norte do Lúrio, correspondente à área onde hoje se situam as províncias de Cabo Delgado e Niassa [Decreto com força de lei de 26 de Novembro de 1891].


Nota minha: Falo aqui de como descobri a importância do Mualia, em cujas terras se situava a machamba do Natupile e que tinha, com o meu Pai, excelentes relações.


18.11.11

Carnavais V



Carnaval 1961-Foto de Celestino Gonçalves


Não tenho a certeza de reconhecer alguém da tribo (ou de fora dela) nestas fotos de Celestino Gonçalves.
Talvez, na foto de 1960, na primeira fila, vestido de criada-de-servir, o meu primo Fernando Almeida e na de 1961, fantasiado de mosqueteiro, o seu irmão Joca.
Ora, quer um quer outro usa fantasias que eu próprio vesti: o Fernando - se é que é ele - a da foto que publiquei aqui; o "mosqueteiro", executado por exigência minha, porque, na altura, era leitor viciado de romances de "capa-e-espada" e "devorava"  Dumas, Ponson du Terrail e Paul Favel, sonhava com D'Artagnan, Lagardère e Rocambole.
Outro aspecto curioso (ou nem tanto), é o facto de, com a excepção do "cipaio" do Turita, (e, talvez, da menina na primeira fila da foto de 1961 mas que parece mais hawaiana do que africana) as máscaras e fantasias são fruto de um imaginário europeu sem qualquer referência ao quotidiano das crianças. Isto para além da conspícua ausência de meninos negros.
Mas também que outra coisa seria de esperar de uma sociedade africana cujas escolas ensinavam diligentemente às crianças os nomes dos rios e as estações de caminho de ferro da "Metrópole", ignorando olimpicamente a geografia e a história da terra que as loiras cabecinhas habitavam?
Carnaval 1960-Foto de Celestino Gonçalves