A
população de Montepuez pertence ao grupo étnico (eu prefiro dizer grupo
socio-cultural) Medo ou Meto. Na área do Distrito, com a população
Macua-Medo coabitam dois clãs ajaua: um na sede (regedoria Mepima) e outra em
Namuno (regedoria Macande). A sul, numa faixa de 25 quilómetros de profundidade
marginando o rio Lúrio e na área do posto de Namuno, habita um grupo Macua.
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Bandeira da Cidade de Montepuez |
A planta
comercial da povoação só foi aprovada em 1950, pela portaria nº 8.375 de 20 de
Maio desse ano. A povoação teria que aguardar mais cinco anos até ver aprovadas
as suas plantas geral e especial.
Em Março de 1959 foi extinta a circunscrição de Montepuez e criado em sua
substituição o Concelho com o mesmo nome. A mesma portaria dotou o Concelho de
uma comissão municipal e a consequente elevação da povoação de Montepuez a vila.
Em 1962, é concedido à vila de Montepuez o privilégio de usar escudo e armas e
bandeira própria.
Nota minha: a 8 deOutubro de 1971, Montepuez foi elevada à categoria de Cidade e, em consequência, a 10 de Janeiro de 1972, a Portaria 9/72, adapta o seu Escudo de Armas, a Bandeira e o Selo que passam a ser:
"Armas: de negro carregado de três cápsulas de algodão de prata, surtidas de pedúnculos de verde e ouro. Coroa mural de prata de cinco torres. Listel branco tendo inscrito, em caracteres negros, «Cidade de Montepuez».Bandeira: gironada de branco e verde, cordões e borlas de prata e verde. Lança e haste douradas.Selo: dentro de listel circular com as palavras «Câmara Municipal de Montepuez», a mesma composição de armas sem a indicação dos esmaltes."
A maioria
da população do actual Distrito de Montepuez segue os ritos e práticas
animistas. Porém, é importante considerar, numa percentagem significativa, os
seguidores do Islão. A religião islâmica, cuja presença na costa é secular (e,
por isso, mais influente do que no interior), teve grande aceitação entre os
Medo por muitas das suas práticas e preceitos se conciliarem com as práticas
culturais locais. Isso talvez explique as práticas sincretistas a que
facilmente aderem os Medo, que assim mantêm quase intactas as suas práticas
animistas. Mas, sincretismos há-os na região, como aliás em todo o Moçambique,
de várias origens religiosas!
O
cristianismo começou as suas incursões na região ainda no século XIX, quando,
em 1893 se noticia uma tentativa da Igreja Católica de fundar no Medo uma
missão, por iniciativa do prelado António Barroso. Em 1906, a IC, através do
Bispo D. Francisco Ferreira da Silva, volta a manifestar a necessidade de se
criar na região uma missão católica. Porém, é só em Maio de 1921 que chegam a
Namuno os primeiros padres missionários, provavelmente holandeses, vindos da
Niassalândia (hoje Malawi).
Está ainda
em actividade na região do Medo, a missão de São José (Montepuez),
que durante muitos anos foi assistida pelos padres holandeses monfortinos com o
apoio de irmãs italianas da Ordem Consolata. Creio que hoje a missão é
assistida também por padres moçambicanos, na linha do que foi a
moçambicanização do clero, um pouco por toda a parte, após a independência do
país. Até à independência, existiam ainda as missões católicas de São
Luís de Monfort (Mesa), Santa Maria (Namuno)
e São Francisco Xavier (Balama), também elas regidas pelos padres holandeses
monfortinos. Creio que hoje, algumas destas missões estão desactivadas e não
sei que uso foi dado às excelentes (para a época, pelo menos!) instalações e
infraestruturas que os missionários ali montaram.
Existia
[NB: não tenho a certeza de ainda existir...] uma representação da Missão de
Combate à(s) Tripanosomíase(s) [MCT], em Balama, onde funcionava um hospital
privativo, dotado de equipamento adequado, um médico e pessoal de enfermagem
devidamente habilitado, que percorriam regularmente as áreas infectadas pela
mosca do sono. O Chefe da MCT, pelo menos até ao início da década de 60, foi o
dr. Raul Nunes Sintra (Balama).
Nota minha: Falei do Dr. Cintra aqui. Houve outro médico de Balama, sucessor do Dr. Cintra, que lá deixou marca também, o Dr. Rui Pinto do Carmo a quem chamavam o "doutor preto". Era casado com uma Senhora encantadora, a Srª. D. Agostinha.
Em toda a
área do distrito se cultiva o algodão, a principal cultura de rendimento.
Actualmente o tratamento e a comercialização do algodão recolhido está a cargo
de uma empresa de capitais maioritariamente britânicos, a LOMACO, que aqui se
instalou na década de 80 do século passado, substituindo-se à SAGAL que foi,
durante meio século a empresa algodoeira de referência nesta zona.
Nota minha: Já falei da Sagal aqui e aqui.
A cultura
do algodão foi sempre praticada na região pelas famílias africanas. Já na ponta
final do século XIX, a produção do algodão chegou a atingir as duas toneladas
por ano, o que começava a justificar a sua comercialização. Até às primeiras
décadas do século XX, na área do distrito de Montepuez, o algodão era adquirido
por agentes intermediários (indianos, sobretudo) e pequenos armazenistas
portugueses instalados no mato, para depois ser vendido a compradores franceses
radicados nas ilhas do Índico (Reunião, Maurícia e Madagascar).
A partir
da década de 30, especialmente a partir de 1938, com a criação da Junta de
Exportações do Algodão Colonial (JEAC), a cultura do algodão passou a estar
sujeita a um regime de cultivo obrigatório, em que os agricultores eram
obrigados a produzir segundo uma quota imposta pela autoridade colonial,
através da JEAC. O algodão era levado pelos agricultores para mercados
controlados pelo governo, que estabelecia também os preços e depois entregue às
empresas algodoeiras, neste caso a SAGAL. Dados estatísticos oficiais apontam
para uma produção, em 1955, de cerca de 15 mil toneladas só na área do Distrito
de Montepuez.
Com a
passagem do monopólio para a LOMACO, esta empresa decidiu não investir na
cultura directa, em áreas de plantação própria, preferindo antes investir na
produção familiar. Paralelamente ao cultivo do algodão para comercialização, os
agricultores moçambicanos produzem para sustento nas suas machambas onde
cultivam, entre outros produtos, o milho, a mandioca e o feijão nhemba.
Outra das
riquezas e fonte de rendimento importante de Montepuez é o mármore, cuja
exploração comercial se começou a fazer nos anos sessenta do século passado.
Aqui se extra mármore de excelente qualidade, que é depois exportado para
mercados diversificados, nomeadamente para Portugal. A maior empresa
actualmente é a Marmonte, de capitais portugueses (c. 80%) e moçambicanos (c.
20%). Existe em Pemba uma fábrica de corte e polimento que é detentora de
equipamento moderno e sofisticado. Segundo dados oficiais, saiem de Pemba em
média, mensalmente, de 5 a 6 contentores com destino à Europa.
A
população do Distrito de Montepuez hoje, deve rondar as 200 mil pessoa se não
mais. Tenho dados estatísticos para 1950 que indicam que a população total do
Distrito era de 130.344 pessoas. Na localidade sede do Concelho de Montepuez
destacam-se 5 áreas: Centro, Nepara, Sanina, Sagal e Missão. Não estou bem
recordado, mas tenho a ideia de que o mais importante régulo da sede do
Distrito, ou o que mais prestígio tinha, era o Régulo Mepima [Poderá o Turita
confirmar isto?]. Na área de Balama era, indiscutivelmente, o Mualia. Ainda
conheci o filho mais velho do último Mualia, cujo nome não recordo, na década
de 80, aqui em Maputo; tinha viajado com o tio Augusto de avião para Maputo e
foi-me apresentado, salvo erro, mesmo no aeroporto! Em Namuno, lembro-me de
ouvir a tia Silvina ou o tio Júlio (ou ambos) falar muito no Régulo Namicópué
ou Namacópué; presumo, por isso, ser ali o mais prestigiado dos régulos. Havia
ainda o Régulo Pitacula, de Melôco, famoso pela reverência relativamente à
autoridade portuguesa, mas que tinha um enorme prestígio em todo o Distrito.
Era o maior contribuinte em termos de imposto(!), mas talvez por ser o regulado
mais populoso do Distrito.
Nota minha: Falei do Mualia várias vezes, do seu antigo poder e prestígio e do facto de o Natupile se encontrar nos seus territórios; falei aqui, também, do seu filho (referido no texto acima e nosso companheiro de brincadeira), de cujo nome julgo, agora, lembrar-me: Manuel.
Aqui ficam
algumas notas (modesto contributo...) sobre a história de Montepuez. Tenho mais
elementos dispersos por várias caixas de arquivo e alguns documentos já
referenciados no Arquivo Histórico, que, com tempo, vou certamente escrever
mais alguma coisa sobre a terra.
Maputo,
Outubro/Novembro de 2011
Aurélio Rocha
. Aprovadas pela
portaria nº 11.146 de 12 de Novembro de 1955.