À direira estão o Dr. Cintra e a Srª. D. Maria João, à
esquerda julgo reconhecer um Administrador de Montepuez cujo nome se varreu da
minha memória; entre eles, claro, os meus Pais.
A foto deve datar dos anos cinquenta e foi tirada no
Natupile, a machamba onde habitualmente vivíamos, ao pé de Balama, a 50 Km de Montepuez.
O Dr. Cintra era o médico que chefiava, em Balama, o Posto
da MCT (Missão de Combate à Tripanosomíase, a terrível “doença do sono").
Como é óbvio, o Posto era um verdadeiro hospital, pequeno,
mal dotado de meios mas que supria, com dedicação, algumas necessidades básicas
das populações mais próximas e fazia do Dr. Cintra era um dos muitos e obscuros émulos
de Albert Schweitzer que pululavam pelas colónias.
Balama, uma pequena localidade onde a SAGAL era a principal
empregadora teria, que, além da casa “chefe” da empresa (não sei se era já o “toureiro”
Henrique Granjeia), da MCT e residência
do Dr. Cintra, do Posto Administrativo e da casa do respectivo Chefe, haveria,
como construções de alvenaria, uma ou duas cantinas.
Mas para crianças que viviam literalmente “no mato”, onde um
longínquo ruído de motor de automóvel provocava picos de enorme excitação,
amaior parte das vezes seguidos de negra desilusão porque o carro em questão não
tinha a machamba como destino, uma ida a Balama era quase uma “ida à cidade”.
O Natupile era a cerca de 15 km e, assim, a Srª D. Maria
João, senhora de modos aristocráticos e singular simpatia, e o Dr. Cintra,
exuberante e sempre elegantemente ataviado, eram nossos vizinhos e visitávamo-nos
amiúde.
Lembro-me do fascínio que despertava em mim uma delicada
rede (de seda?) que o Dr. Cintra usava para manter a sua densa, negra e bem
penteada cabeleira empastava em brilhantina sem um só cabelo fora do lugar e
que, por várias vezes, provavelmente por termos chegado a Balama de improviso,
ele ostentava.
E mais impressionado fiquei (sentimento que os meus irmãos
partilhavam), quando fui informado que era, sobretudo, para dormir que o
artefacto era utilizado.
No verso da foto, escrita com a caligrafia de minha Mãe, está a frase "No pomar do Natupile". Não há indicação da data.
No verso da foto, escrita com a caligrafia de minha Mãe, está a frase "No pomar do Natupile". Não há indicação da data.
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