17.10.11

Teixeira & Ramalho


Teixeira & Ramalho era a firma da sociedade dos meus tios António Teixeira e Joaquim Ramalho.
Depois da morte do primeiro, manteve-se na propriedade do outro e mais tarde, por razões que não conheço ou de que não me lembro, passou a ficar sob gerência do meu Pai.
Era, para além do Clube, o local de encontro social; só de homens, entenda-se, que as senhoras não o frequentavam senão para compras, ao contrário do que sucedia com o Clube.                                                                             
A varanda, junto ao bar, era o local do aperitivo de antes do almoço e do drink ao fim da tarde.
Adolescente, aí disputava com o meu primo Augusto José, o saudoso "Pancinhas", renhidas partidas de poker de dados que decidiam quem pagava as contas dos whiskys, bebidos, ainda, em semi-clandestinidade, dado o desagrado parental face à precocidade dos consumidores.
Antes do almoço, o meu tio Aires Rocha, impecavelmente trajado "à colonial", de fato branco, sempre jovial, esperava até ao chamamento do criado que vinha anunciar "senhora 'tá chamar p'ró almoço" para escorropichar o último trago da bebida.
Quando vim para Lisboa para a Faculdade e, dando conteúdo prático à iniciação política bebida em longas conversas com o Dr. Cansado Gonçalves, meu Professor no Liceu de Lourenço Marques, fugaz (mas marcante) Secretário-Geral do PCP e da Drª. Maria da Luz, iniciei entusiásticos contactos com a clandestinidade política.
De férias em Montepuez, pedante e emproado, era frequente que provocasse a ira paterna com tiradas patetas, debitadas no tom rebarbativo de um leninezinho em potência. 
Isso passava-se, habitualmente, à hora do almoço e, em seguida, marchávamos, eu e meu irmão, para a varanda acima perpetuada; atrás, de sorrizinho sarcástico, o meu tio Joaquim Ramalho, assobiava, cheio de gorgeios, a "Internacional"!
Quando isso sucedeu pela primeira vez, imagine-se o meu espanto ao constatar que, mesmo no meio do sertão setentrional de Moçambique, alguém reconhecia o Hino e logo um tio meu!...
Foi assim que fiquei a conhecer o conspícuo "passado revolucionário" do meu tio.

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