Teixeira & Ramalho
era a firma da sociedade dos meus tios António Teixeira e Joaquim Ramalho.
Depois da morte do
primeiro, manteve-se na propriedade do outro e mais tarde, por razões que não
conheço ou de que não me lembro, passou a ficar sob gerência do meu Pai.
Era, para além do Clube,
o local de encontro social; só de homens, entenda-se, que as senhoras não o
frequentavam senão para compras, ao contrário do que sucedia com o Clube.
A varanda, junto ao bar,
era o local do aperitivo de antes
do almoço e do drink ao
fim da tarde.
Adolescente, aí
disputava com o meu primo Augusto José, o saudoso "Pancinhas",
renhidas partidas de poker de dados que decidiam quem pagava as
contas dos whiskys, bebidos, ainda, em
semi-clandestinidade, dado o desagrado parental face à precocidade dos
consumidores.
Antes do almoço, o meu
tio Aires Rocha, impecavelmente trajado "à colonial", de fato branco,
sempre jovial, esperava até ao chamamento do criado que vinha anunciar
"senhora 'tá chamar p'ró almoço" para escorropichar o último trago da
bebida.
Quando vim para Lisboa
para a Faculdade e, dando conteúdo prático à iniciação política bebida em
longas conversas com o Dr. Cansado Gonçalves, meu Professor no Liceu de
Lourenço Marques, fugaz (mas marcante) Secretário-Geral do PCP e da Drª. Maria
da Luz, iniciei entusiásticos contactos com a clandestinidade política.
De férias em Montepuez,
pedante e emproado, era frequente que provocasse a ira paterna com tiradas
patetas, debitadas no tom rebarbativo de um leninezinho em potência.
Isso passava-se,
habitualmente, à hora do almoço e, em seguida, marchávamos, eu e meu irmão,
para a varanda acima perpetuada; atrás, de sorrizinho sarcástico, o meu tio
Joaquim Ramalho, assobiava, cheio de gorgeios, a "Internacional"!
Quando isso sucedeu pela
primeira vez, imagine-se o meu espanto ao constatar que, mesmo no meio do
sertão setentrional de Moçambique, alguém reconhecia o Hino e logo um tio
meu!...
Foi assim que fiquei a
conhecer o conspícuo "passado revolucionário" do meu tio.
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