O Tio Ramalho, depois de assistir às vivas discussões políticas que eu, com algum pedantismo, tinha com meu Pai, acompanhava-me no curto tajecto até à varanda do Bar, assobiando sardonicamente "A Internacional".
Só muito instado e perante a minha estupefacção me revelou, a conta gotas e com grande reserva, no meio de contagiantes risadas, que, na sua juventude, andara "metido na política" e tivera veleidades "revolucionárias".
Detalhe de foto de Celestino Gonçalves |
Ora, com a cumplicidade de um ferroviário, um grupo que não tinha em excessiva estima a rapaziada de camisa azul, parou o comboio na Estação de Ermesinda e atacou os nazis indígenas, originando uma sarrafusca generalizada.
Na sequência disto, o Tio Ramalho foi levado para a sede da Polícia Política (que, nessa altura, ainda devia usar o nome de PVDE - Polícia de Vigilância e Defesa do Estado - a sigla que antecedeu a da PIDE), no Porto. Acompanhava-o um camarada que tinha a particularidade de ser boxeur e, segundo o relato bem-humorado do Tio Ramalho, uma estatura avantajada e uma força a condizer.
À chegada ao Porto e à sede da Polícia, parece que os presos eram recebidos, à passagem da porta, por um bofetão, a título de boas-vindas.
O Tio Ramalho, não era particularmente corpulento; bom, diria mesmo que era baixote...
Foi o primeiro a entrar e, quando o agente encarregado das boas-vindas fez o movimento para a proverbial bofetada, o Tio Ramalho abaixou-se e o infeliz agente atingiu em cheio o amigo boxeur; este estava treinado para reagir, quase automatica e institivamente, a qualquer adversário que tentasse atingi-lo, de modo que acertou um impecável jab na cara do "chui" que, segundo a versão ramalhal, ficou imediatamente KO.
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