Já passou muito tempo desde que
deixei de acreditar na bondade intrínseca da pessoa humana e no mito
rousseauniano do “bom selvagem”, seu corolário.
Também desapareceu já a ilusão
segundo a qual nas relações entre colonizado e colonizador toda a razão e toda
a virtude estavam só de um lado.
Escrevo isto porque me apercebi
que, por vezes, com foi o caso no post “Macua 3” , pode transparecer esse equívoco
e, por deficiência da minha capacidade de exposição, poder-se (erradamente)
inferir que os macuas são um conjunto de seres angélicos, sábios e generosos,
perante uma turba feroz de seres maléficos e ignorantes.
Não tenho essa visão maniqueísta.
Acontece, porém, que é mais difícil
argumentar contra um preconceito ou uma ideia feita do que aceitá-los
sem discussão.
Daí a tendência para uma
predisposição para sobrevalorizar os traços positivos de uma cultura ameaçada,
dominada ou pouco conhecida, em detrimento de uma apresentação “equilibrada” que
aponte, em paralelo, para os aspectos menos “simpáticos” dessa mesma realidade.
Esta é uma declaração prévia ao
que escreverei a seguir, sobre alguns aspectos da cultura dos macuas, correndo
o risco de minimizar, outra vez, traços menos simpáticos dela e não fazendo o
mesmo para o colonizador.
Socorro-me de Alberto Viegas, um
escritor nampulense nascido em Cuamba, para falar de um traço da cultura macua:
Diz ele que para os macuas “o
sorriso é um sinal de amizade e de que se pode criar uma boa relação. Quando
chega alguém que não é conhecido, sorriem-lhe na mesma: Deste modo, ele saberá
que não tem nada a temer.
Os macuas recorrem também ao
sorriso para apagar as ofensas. O ofendido, por sua vez, espera que aquele que
o ofendeu lhe retribua outro sorriso para demonstrar que não queria ferir-lhe o
coração. Basta um sorriso e acontecerá a reconciliação.
Durante o período colonial, este
costume deu origem a muitas incompreensões. Ao patrão enfurecido que o
insultava e lhe batia, o macua sorria, querendo dizer-lhe: ‘Desculpe, não
queria ofendê-lo’. Mas o patrão, ignorando o significado desta atitude,
tratava-o ainda com mais violência, pois pensava estar a burlar-se dele.”
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