13.12.11

Macua 4


Já passou muito tempo desde que deixei de acreditar na bondade intrínseca da pessoa humana e no mito rousseauniano do “bom selvagem”, seu corolário.
Também desapareceu já a ilusão segundo a qual nas relações entre colonizado e colonizador toda a razão e toda a virtude estavam só de um lado.
Escrevo isto porque me apercebi que, por vezes, com foi o caso no post “Macua 3”, pode transparecer esse equívoco e, por deficiência da minha capacidade de exposição, poder-se (erradamente) inferir que os macuas são um conjunto de seres angélicos, sábios e generosos, perante uma turba feroz de seres maléficos e ignorantes.  
Não tenho essa visão maniqueísta.
Acontece, porém, que é mais difícil argumentar contra um preconceito ou uma ideia feita do que aceitá-los sem discussão.
Daí a tendência para uma predisposição para sobrevalorizar os traços positivos de uma cultura ameaçada, dominada ou pouco conhecida, em detrimento de uma apresentação “equilibrada” que aponte, em paralelo, para os aspectos menos “simpáticos” dessa mesma realidade.
Esta é uma declaração prévia ao que escreverei a seguir, sobre alguns aspectos da cultura dos macuas, correndo o risco de minimizar, outra vez, traços menos simpáticos dela e não fazendo o mesmo para o colonizador.
Socorro-me de Alberto Viegas, um escritor nampulense nascido em Cuamba, para falar de um traço da cultura macua:
Diz ele que para os macuas “o sorriso é um sinal de amizade e de que se pode criar uma boa relação. Quando chega alguém que não é conhecido, sorriem-lhe na mesma: Deste modo, ele saberá que não tem nada a temer.
Os macuas recorrem também ao sorriso para apagar as ofensas. O ofendido, por sua vez, espera que aquele que o ofendeu lhe retribua outro sorriso para demonstrar que não queria ferir-lhe o coração. Basta um sorriso e acontecerá a reconciliação.
Durante o período colonial, este costume deu origem a muitas incompreensões. Ao patrão enfurecido que o insultava e lhe batia, o macua sorria, querendo dizer-lhe: ‘Desculpe, não queria ofendê-lo’. Mas o patrão, ignorando o significado desta atitude, tratava-o ainda com mais violência, pois pensava estar a burlar-se dele.”

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