Embora os macuas, enquanto
conjunto étnico-linguístico mantenha uma identidade comum, elas não constituem
uma unidade homogénea.
No seio do conjunto “macuas”,
há relações muito complexas entre diversos sub-grupos agrupados à volta das
variantes linguísticas e que se revelaram, por exemplo, nas modalidades
diversas que assumiu, a reacção diferente ao poder colonial nas diversas áreas
daquilo que, outrora, se chamava “a Macuana” ou a diversidade dos graus de
aceitação das substituição das chefias tradicionais dos “mwene” pelos régulos
impostos pelo poder colonial e que, normalmente, eram submissos a este.
Mulher macua usando o "mussiro" ou "mciro" |
A organização social dos
macuas é exogâmica (isto é, ao cônjuges devem provir de grupos distantes, o que
tende a dificultar a consanguinidade) e matrilinear (o que quer dizer que a
pertença a um grupo ou a sucessão num cargo ou posição se define pela linhagem
feminina).
Assim, sucedia ao “mwene” o
filho mais velho da sua irmã mais velha, o mesmo se passando com o estatuto de “chefe
da família” ou da aldeia ou do clã.
Por outro lado, o indivíduo
integrar-se-ia não no clã do pai mas sim no da mãe.
Estas regras parecem estar a
cair em desuso e essa “desestruturação” tem consequências desastrosas sobre a
identidade e o enraizamento dos indivíduos.
A socióloga moçambicana
Conceição Osório interroga-se se “estamos a falar do passado” ao falar de
sociedade matrilinear (pelo menos em Nampula) e usa o exemplo de mulheres separadas
e viúvas que foram ou se “sentiram” abandonadas. Aponta, também, outra consequência
gravosa do “abandono da matrilinearidae (que) reforça o modelo patriarcal” ; é
que essa alteração não é acompanhada pela mudança na regra que considera os
filhos como sendo da responsabilidade da mãe, o que faz com que os filhos sejam
“abandonados” pelos pais ao mesmo tempo que as suas mães, desresponsabilizando
totalmente os homens.
Embora, como disse aqui, as origens mitológicas do povo macua sejam
localizadas no Namuli, ele deve ter evoluído, segundo alguns estudiosos, a
partir de um grupo migrante originário da África Central que se fixou na zona
do Rio Montepuez por volta dos séculos X e XI e aí assimilou as populações
locais, tornando-se o grupo dominante na área.
Nos finais do século XV, os
portugueses chegam à costa de Moçambique, a caminho da Índia.
Ora, a costa oriental de África
estava já estruturada numa rede comercial e marítima, controlada pelos árabes e
pelos swahilis, que conseguiu obstar a que os portuguese penetrassem para o
interiro, excepção feita ao vale do Zambeze, onde o sistema dos “prazos” lhes
permitiu um efectivo domínio. Mas, mais a norte, as coisas foram diferente e o
Sultão de Angoche, por exemplo, conseguiu resistir até 1910, ano em que foi,
finalmente, submetido.
Outros potentados
afro-muçulmanos, embora tenham siso submetidos um pouco antes do de Angoche, foram
focos de resistência ao poder colonial até aos finais do século XIX.
Até à efectiva abolição da
escravatura (que só se verificou no início do século XX, até quando o tráfico
funcionou clandestinamente), esta foi, depois dos ciclos do ouro e do marfim, o
principal “ramo de comércio” entre os portugueses, os swahilis e os macuas.
Enquanto na costa ocidental,
o destino dos escravos foi essencialmente as Américas e as Caraíbas, no caso de
Moçambique foi a introdução do cultivo da cana-de-açúcar nas Comores, em Madagáscar
e nas Maurícias que para aí canalizou a maior parte dos escravos.
Mas entre os quase meio
milhão de cativos que se calcula terem saído de Moçambique, também muito, com
predominância dos macuas, foram destinados não só às Américas mas também ao
Golfo Pérsico e ao Oriente.
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