Mas o que me enchia as medidas era a história do Cabo Mata que o Tio Ramalho caontava com grande cópia de promenorse e gesticulações, entre risadas e mímicas e que me punham a rir às gargalhadas.
Parece que o Cabo Mata era o garboso Comandante do Posto da Guarda Republicana de
Ermesinde.
Ermesinde.
A localidade devia, nos anos 30, ser pequena e o Cabo Mata era uma figura estimada e popular entre as suas gentes.
Ele era adepto do "Reviralho" e não se entusiasmara com o 28 de Maio, com a Ditadura Militar que se lhe seguiu nem com o Dr. Salazar que herdou, do Exército, o Governo.
Assim, o Cabo Mata fazia fama e proveito de conspirador.
Ora, o salazarismo ainda não estava consolidado e os golpes, as intentonas e as "revoluções" multiplicavam-se e sucediam-se.
A certa altura, chegou a notícia de que um grupo de militares se revoltara no Porto e pretendia derrubar o regime.
O Cabo Mata, paladino da República e miltar brioso, resolveu aderir à revolta: armou os dois soldados que estavam no posto e decidiu marchar sobre a cidade.
Correu célere a notícia de que o bravo Comandante e o grosso das tropas da guarda, de peito feito às balas inimigas, com a coragem dos heróis e o entusiasmo ao rubro, marchava já em direcção ao Porto, pronto a colocar as suas forças ao serviço da Causa.
Nas ruas de Ermesinde ouviam-se palmas e gritos de entusiasmo e encorajamento. Alguns elementos da Banda dos Bombeiros correram para a frente do Cabo Mata e dos seus homens e executaram entusiásticas mrchas militares (ou modinhas folclóricas, não sei bem). Houve colchas nas janelas e as moças, emocionadas com a bravura dos jovens soldados, porventura temendo pela vida desses bravos, atiravam flores e beijos com a ponta dos dedos.
E, garboso e emocionado, peito para fora, barriga para dentro, o Cabo Mata agradecia, saudando a população e gritando vivas à República!
Os miúdos marchavam, nos passeios, com canas ao ombro, a imitar os valentes.
O ambiente era electrizante.
O destacamento estava já nos limites da Vila, quando chegou, a correr, um funcionário dos CTT com um telegrama nas mãos. A Banda silenciou, cessaram os gritos.
Tristemente, depois de percorrer o telegrama, o Cabo Mata de uma ordem de "meia volta volver" e, juntamente com os seus dois subordinados, regressou ao Posto.
O telegrama dizia que o General Coisa e Tal, os Coronéis Fulano e Cicrano e os restantes oficiais sediciosos, isto é, todos os "revolucionários", tinham sido presos.
A Revolução falhara, o "Botas" ainda ia durar muitos anos antes do trambulhão da cadeira.
O Cabo Mata foi preso num dos dias que se seguiram. A história não acabava bem mas o valente Cabo não deve ter ficado muito tempo na prisão.
Pelo menos, eu gosto de pensar que não, não ficou muito tempo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário