30.1.12

MEMÓRIA COLONIAL VII


Carlos Vaz Ferraz é o pseudónimo literário de Carlos Matos Gomes, Coronel do Exército. 
Carlos Matos Gomes. que foi um dos "Capitães de Abril", tem-se   dedicado à literatura e à ficção.
Publicou já numerosas obras que têm a guerra colonial como tema; um dos seus livros foi adaptado para cinema e o filme, realizado por António Pedro de Vasconcelos com o título Os Imortais, obteve bastante êxito.
Escreveu o argumento do filme Portugal S.A., de Ruy Guerra,  realizador brasileiro nascido em Moçambique.
Colaborou com Maria de Medeiros no filme Capitães de Abril e é autor do guião da série de televisão Regresso a Suzalinda, baseada no romance Fala-me de África.
O título do livro aqui apresentado, Nó Cego, remete para a designação de código "Nó Górdio", a maior operação militar realizada em Moçambique durante a Guerra Colonial que decorreu em 1970, sob comando do General Kaúlza de Arriaga e envolveu 35 mil militares. O objectivo era destruir as bases da FRELIMO e neutralizar as pistas e rotas de infiltração de homens e material provenientes da Tanzânia.
O autor comandou uma Companhia de Comandos que participou naquela operação.
Nó Cego é um dos poucos grandes livros de ficção sobre a guerra colonial, um vasto fresco sobre os soldados e oficiais "transplantados" das suas terras de origem para uma África violenta, em convulsões febris na busca da sua liberdade e dignidade, sobre as angústias, os medos , os crimes que são, sempre, o pano de fundo das guerras.
Muito bem escrito, com uma linguagem depurada, recusando o sentimentalismo e o panfleto, Nó Cego é, hoje, objectos de estudos académicos e poderá vir a ficar na História da literatura portuguesa, como diz no Prefácio à ultima edição da autoria de Rui de Azevedo Teixeira, como "o nosso Por Quem Os Sinos Dobram".
A título de curiosidade, transcrevo uma passagem em que Carlo Vaz Ferraz se refere a Montepuez:

"Vinda de Angola, desembarcada do navio Império em Porto Amélia, antes de ser enviada para Mueda com a urgência dum carro de bombeiros, a companhia esteve uns curtos dias em Montepuez, o quartel da base dos Comandos, para receber o armamento e o equipamento dos lotes de intervenção.
Montepuez seria um género de residência da família no campo, o local onde deixaram arrumados nos armários verdes das casernas que lhes atribuíram as roupas civis que só seriam utilizadas nas próximas férias e os pertences inúteis que lhes recordavam o passado. (...) Não chegaram a conhecer a pequena vila no interior, situada numa área de novas plantações de algodão (...)".

Carlos Vaz Ferraz
Nó Cego
Edição Casa das Letras
(Oficina do Livro)












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