Depois de mais de trinta e cinco anos de ausência, estive, por um período de pouco mais de 4 horas, no sítio onde cresci.
Foram, como se pode imaginar, horas intensíssimas e emocionalmente violentas.
Creio que este
blog deixa transparecer, sob a inabilidade das palavras, algumas das emoções que me agitaram e, sobretudo, o complexo processo que se desencadeou na minha memória.
Como diz António Damásio (já citado
aqui )
"não existe memória sem emoção".
Segundo parece, temos todos uma memória mnemónica ou relacional que seria a tarefa essencial do hipocampo e que já teria sido documentada noutros primatas. A sua função deve ser conservar as memórias autobiográficas, armazenando-as e relacionando-as no tempo e no espaço.
Por exemplo, um dia de calor intenso pode fazer-me recordar o dia em que, há muito tempo, entrei naquele café onde havia ar condicionado e um funcionário de bom aspecto me serviu uma cerveja gelada.
Imagine-se a catadupa de emoções, recordações que eram julgadas encafuadas nas profundezas do cérebro e, numa viagem como esta, ressurgem, lázaros incorpóreos, da escuridão em que estavam enterradas.
Fiz os cerca de 240 km de estrada até Pemba quase em silêncio, um silêncio que não era feito de melancolia mas que provinha da necessidade de realinhar os pensamentos.