30.9.11

Citação IV

Encerro esta primeira fase do blog citando Gaspar Correia, o "Políbio português", que foi secretário de Afonso de Albuquerque e, por volta de 1550, escreveu a sua principal obra, "Lendas da Índia":



Nenhuma coisa desta vida humana é tão proveitosa aos viventes como lembrança e memória dos bens e males passados.*


*O poeta Luís Filipe Castro Mendes usa esta citação como introdução ao seu livro (também intitulado "Lendas da Índia") e transcreve-a sem a actualizar: "Nenhuma cousa desta vida humana he tão aproueitiuel aos viuentes que lembrança e memoria dos bens e males passados".


Já se vê o mar!



Aqui, neste preciso lugar, logo a seguir a uma subida e a uma pequena curva, "vê-se o mar" pela primeira vez na viagem.
Na verdade, é uma das várias lagoas de água salobra junto a Pemba.
Mas era "o mar" e, dentro da cabina do carro, rebentava uma grande excitação, com gritos e vozes em coro que, inevitavelmente, acabavam por provocar uma ordem paternal para acabar com o barulho.
A viagem está quase a acabar.

A terra encarnada


9.9.11

Pausa

Durante alguns dias, vou deambular por aí.
Quando voltar, lá para o fim do mês, convido os (poucos) visitantes mais ou menos regulares do blog a voltarem ao meu convívio.


Vou tentar "ilustrar" recordações antigas.

7.9.11

5.9.11

Citação III



A memória é como o homem atingido
pela flecha envenenada: antes que curem
a ferida ele pergunta quem o atingiu,
como se chama, onde está, o seu aspecto.
Então talvez saiba mais sobre a flecha
e o archeiro, mas é demasiado tarde
para ser salvo


Pedro Mexia, "A Flecha Envenenada", in "Em Memória", 2000

 

Regresso

Depois de mais de trinta e cinco anos de ausência, estive, por um período de pouco mais de 4 horas, no sítio onde cresci.
Foram, como se pode imaginar, horas intensíssimas e emocionalmente violentas.
Creio que este blog deixa transparecer, sob a inabilidade das palavras, algumas das emoções que me agitaram e, sobretudo, o complexo processo que se desencadeou na minha memória.
Como diz António Damásio (já citado aqui ) "não existe memória sem emoção".
Segundo parece, temos todos uma memória mnemónica ou relacional que seria a tarefa essencial do hipocampo e que já teria sido documentada noutros primatas. A sua função deve ser conservar as memórias autobiográficas, armazenando-as e relacionando-as no tempo e no espaço.
Por exemplo, um dia de calor intenso pode fazer-me recordar o dia em que, há muito tempo, entrei naquele café onde havia ar condicionado e um funcionário de bom aspecto me serviu uma cerveja gelada.
Imagine-se a catadupa de emoções, recordações que eram julgadas encafuadas nas profundezas do cérebro e, numa viagem como esta, ressurgem, lázaros incorpóreos, da escuridão em que estavam enterradas.
Fiz os cerca de 240 km de estrada até Pemba quase em silêncio, um silêncio que não era feito de melancolia mas que provinha da necessidade de realinhar os pensamentos.