Perdeu a aura vagamente sinistra com que eu a encarava, desde a primeira vez em que vi, VI realmente, uma sessão de palmatoadas.
Claro que sabia que aquilo acontecia mas era um "saber" distanciado, um pouco asséptico, talvez apenas tintado por alguma curiosidade perversa.
Mas, dessa vez, vi.
Vi o cipaio agarrar o punho do preso, puxar a mão que este abria porque a pancada da palmatória seria muito mais dolorosa sobre os nós dos dedos.
Vi o “língua” que reproduzia em macua as frases gritadas em português do branco que assistia e ordenava cada nova palmatoada.
Ouvi o grito lancinante que se seguia a cada golpe, um “aiii” uivado em que o “i” se prolongava, animalesco e denso.
Vi as contorções grotescas do corpo em sofrimento, como se fossem convulsões mórbidas.
Foi uma espécie de baptismo da violência racista, a revelação de algo muito obscuro e revoltante que, não tenho dúvidas, me marcou indelevelmente.
Agora, pareceu-me apenas um pequeno edifício airosamente colonial, com as escadas de muito menos degraus, na verdade quase simpático.
Haverá ainda a prisão nas traseiras? Pensei nisso quando passei mas nem o mencionei à Paula. Prefiro pensar que já não existe.
Um comentário:
Encontrei esse site por um acaso, fiquei curioso. Não sei se esse site ainda é atualizado, tampouco se lê os comentários, mas fiquei intrigado com este comentário em específico. .. Queria saber mais sobre isso.
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