Não será por isso que o dia
ficará na História mas a verdade é que nasci a 4 de Setembro de 1943, na
belíssima Porto Amélia, junto ao Índico, na casa (onde também ele nasceu) mostrada na foto abaixo, enviada pelo Lelo.
Casa em que nasci em Porto Amélia, que é hoje
uma loja de materiais de
construção.
Já antes tinha sido lojoa mas de material
eléctrico – a Electro
Pamélia.
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Cedo me levaram meus pais (soa um
pouco a “Menina e Moça”...) para não muito longes terras, isto é, para o
Natupile.
Da minha mais tenra infância na machamba, já aqui falei.
Com a entrada na Escola, as
visitas de meus Pais a Montepuez (cerca de 50 Km de distancia) tornaram-se mais
frequentes, enquanto eu era acolhido em casa da Tia Conceição e do Tio
Teixeira, junto dos meus primos Fernanda e Zé Maria e da Avó Nazaré (ver aqui).
Na fila de trás: uma marrussi, a Maria Cândida, aTia Conceição e a Fernanda . Na da frente, eu e o A.ugusto Zé |
Da Escola, recordo-me de algumas
aulas dadas nas instalações do Clube (o Glorioso Atlético!), talvez devido a
obras no outro edifício; lembro-me do Professor Bouça, um senhor que infundia um salutar
terror nos seus discípulos, ostentava umas ameaçadoras e hirsutas sobrancelhas e
fazia generoso uso da “menina de cinco olhos” e da cana, esse eficiente
auxiliar pedagógico.
Da casa da Tia Conceição nessa
época, recordo vividamente uma cena que muito me impressionou: pela
primeira vez vi uma galinha degolada a correr, às voltas, sem cabeça e sem
direcção. Julgo que tive alguns pesadelos e, muito mais tarde, ao
ler uma descrição assaz realista da decapitação de Luís XVI na guilhotina
parisiense, afirmando o autor que os olhos e a boca do infeliz Capeto ainda se
abriram e fecharam convulsivamente quando o carrasco Sansão mostrou a cabeça já
decepada à populaça, revivi a cena da galinha e acreditei piamente que o rei ou, melhor, a sua cabeça sobrevivera, por instantes, à máquina do Dr. Guillotin..
A propósito de galinhas, foi
também por essa altura que o gang infantil
da tribo encetou uma série de experiências científicas de “hipnotização” de galináceos. O
procedimento era o seguinte: agarrada a ave, metia-se-lhe a cabeça debaixo da
asa e desenhava-se um círculo na areia à volta do animal, enquanto se
pronunciavam, com voz cava, alguma palavras “hipnóticas”, ordenando que não
ultrapassasse a linha marcada. Ora acontecia que a galinha, sendo
reconhecidamente o mais estúpido dos animais, ficava quieta, sem fazer sequer
qualquer tentativa de retirar a cabeça da (incómoda) posição.
Uma outra descoberta científica
semelhante, na impressão causada, à da galinha sem cabeça, foi a da cauda da
lagartixa que, uma vez cortada, continua a contorcer-se freneticamente durante
bastante tempo. Temo que esse fenómenos tenha dado origem a alguns actos de
grande crueldade praticados contra um número indeterminado de lagartixas; a
única desculpa que me ocorre, é que é o experimentalismo que faz avançar a ciência
e como dizia o clássico “a experiência é a madre de todalas cosas”. Era um grupo de crianças sedentas de saber e não um bando de energúmenos.
Também somos culpados do
assassinato de uma pacífica cobra (não tenho a certeza se era pacífica e,
provavelmente, não o era).
Matei (ou ajudei a matar) algumas outras, a última há muito pouco tempo, na Residência da Embaixada de Portugal em Malta; mas aquela do quintal da casa da Tia Conceição foi a primeira.
Experimentei, pela primeira vez, um sentimento que, em mim, foi sempre menos forte e apetecido do que para um grande número de pessoas: a satisfação da caça, essa manifestação ancestral que está, talvez, na nossa memoria genética (se é que isso existe).
Matei (ou ajudei a matar) algumas outras, a última há muito pouco tempo, na Residência da Embaixada de Portugal em Malta; mas aquela do quintal da casa da Tia Conceição foi a primeira.
Experimentei, pela primeira vez, um sentimento que, em mim, foi sempre menos forte e apetecido do que para um grande número de pessoas: a satisfação da caça, essa manifestação ancestral que está, talvez, na nossa memoria genética (se é que isso existe).
A sensação de euforia não foi
menos intensa da que tive quando, muitos anos mais tarde, abati o meu primeiro
e único elefante.
“Abati” é uma forma de dizer;
apesar de o primo Junqueiro me garantir que sim, mantive para sempre a
desconfiança de que ele também disparara e que foi dele o tiro fatal.
A casa da Tia Conceição é um dos lugares da minha infância cuja lembrança permaneceu mais vívida.
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